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Foto do escritorHelena Magalhães

Homens: as mulheres contam tudo umas às outras. Tudo. Acreditem…


Há um tipo que é realizador de cinema (ou pelo menos é isso que ele diz) que andou a falar pelo Instagram com uma amiga. Trocas de conversas e elogios e engate e sedução – que sempre é uma palavra mais bonita – até ela ter perdido o interesse com tanto blá blá blá e se ter desmarcado. É daqueles que fala só dele, sabem? Ai que agora vou filmar para o Brasil. Ai que agora tenho uma entrevista na televisão. Ai que sou tão bom e nem sabes tu o que andas a perder. Mas se fosses tão bom se calhar não andavas a engatar miúdas pela internet. Bye.

Até que me adicionou a mim no Facebook. E eu (depois de mostrar à minha amiga) aceitei para me divertir um bocado até ele perceber que éramos amigas. Troquei – literalmente – duas frases com ele até ter deixado de responder porque fiquei com muito trabalho e não consegui prosseguir com esta brincadeira virtual. Quando dei por ela antes do Natal, tinha um monólogo dele no meu chat. Ia responder e ser simpática até uma outra amiga nossa nos ter dito que andava a falar com ele no Tinder e ele lhe tinha dito que talvez arranjasse tempo para um café com ela antes de ir para o Brasil. Com tanto engate virtual, fica difícil ter horários para gerir tudo, certo?

E é isto que ainda me espanta que os homens não vejam: as mulheres falam tudo umas com as outras. Mas tudo. Todos os pormenores. Até os mais sórdidos. Sei mais sobre os namorados das minhas amigas do que eles imaginam. Já lhes vi as pilas em fotografias. E já ri muito com os podres que elas contam deles. É assim que as mulheres são nas relações de amizade fortes e reais – não têm filtros. Partilham, desabafam, comentam, mandam milhares de prints de conversas, áudios de cinco minutos a contar uma história, partilham todos os detalhes sexuais, pedem conselhos, choram, riem. Dizem que as amizades das mulheres são difíceis (e eu concordo) mas aquelas que são verdadeiras são do caraças. São como família. E com a família não temos filtros.

Então, em que momento é que um tipo anda a tentar engatar várias amigas e não acha que elas já falaram dele?

Mas pronto, ok, fica difícil saber quem é realmente amigo de quem quando temos milhares de pessoas nas nossas redes sociais e 90% são meros conhecidos. 

Mas é aí que os homens falham ao não saberem que existe uma espécie de código secreto entre as mulheres no que toca aos homens: pedimos referências. Até à colega da prima da nossa amiga com quem só estivemos uma vez num jantar.

Eis o que fazemos quando conhecemos um tipo: vamos escarafunchar todo o seu Facebook e Instagram. Vemos todas as fotos, comentários e fotos em que foi marcado. Mandamos vários prints para as nossas amigas e estudamos até o periquito. Eu nem sou muito assim (porque até evito ver para não me desinteressar ao fim de cinco minutos) mas entro na pesquisa FBI quando são tipos que as minhas amigas conheceram.

Há uns tempos uma rapariga que conheci através de uma amiga conheceu o – vamos chamá-lo assim – Jorge num jantar de aniversário. Até lhe achou alguma piada porque era conversador e estava a falar imenso com ela, era divertido e fazia as pessoas rir. Mas no fim começou a pressionar para ela lhe dar o número de telefone e a dizer que a ia levar a jantar no dia seguinte. E ela ficou desconfortável porque sentiu imensa pressão da parte dele e – chamei eu assim – um certo desespero. Há que fazer as coisas com calma e deixar fluir. Mas o Jorge é esperto. Pediu o número de telefone dela à aniversariante que, achando ter havido um click, lho deu. Cinco minutos depois de ela ter saído do jantar, ele estava a adicioná-la e a mandar-lhe mensagem no Facebook. E, face à ausência de resposta dela, ligou-lhe. Sem conhecer o número, ela atendeu. E levou com ele durante meia hora. Depois de o ver no Facebook, viu que me tinham a mim em comum. Plim! Plim! Plim!

Óbvio que me mandou uma mensagem a pedir referências. Eu já nem me lembrava quem ele era porque, honestamente, tinha-o no meu telefone como Jorge Chato Nunca Atender. Mas eis a história do Jorge: conheci-o num trabalho, demo-nos bem, falámos, ele adicionou-me, eu aceitei por simpatia, ele falava imenso, eu até ia respondendo porque eram conversas banais e depois perguntou-me se queria almoçar com ele para trocarmos umas ideias de trabalho. Porque não? Pois que fui. E pois que me arrependi. O Jorge só falava dele. Do seu trabalho, das suas conquistas e todo ele cheio de sabedoria e dicas para mim sempre com uma postura presunçosa e de superioridade. Decidi naquele dia nunca mais almoçar com ele e comecei a cortar nas conversas. Mas o problema dos homens é que são manhosos. Perguntou-me se queria ir com ele a uma festa em casa de uma amiga que calhava ser uma diretora de redacção de uma revista que eu até gostava de conhecer para, quiçá, poder escrever para lá.

Para homem manhoso, há uma mulher ainda mais manhosa. Eu fui. Acham que conheci a amiga? Ou que me apresentou? Ou que criou uma oportunidade? Claro que não. Quando chegámos, ele disse-lhe: é a minha amiga Helena. Olá muito prazer e adeus. Não lhe disse quem eu era, o que fazia, ou porque era interessante para ela conhecer-me. E tentou engatar-me durante a noite toda no sofá, comigo a afastar-me e a dizer que, se calhar, íamos andando.

Ainda assim, o Jorge Chato Nunca Atender não entendeu a mensagem. Talvez porque chumbou no curso do engate para totós.

E continuaram a cair mais convites para isto e para aquilo e, entretanto, para um concerto que eu até queria ver e ele tinha bilhetes. A minha resposta foi evasiva: ah gostava imenso de ir ao concerto, depois logo vejo se dá.

Perceberam? Quando já não sabemos o que responder depois de tantos nãos e deixamos ali o assunto no ar até morrer. Quando me fazem isso, eu já sei o que significa – que o tipo não está interessado em mim. Mas os homens acham sempre que nos estamos a fazer de difíceis.

Conclusão: fui à minha vida e nunca confirmei. Até que me começou a ligar insistentemente numa noite e eu sem saber o que raio o tipo queria mas – instinto feminino, podem chamar-lhe assim – com o feeling de que era melhor nem atender. Depois de cinco ou seis chamadas não atendidas, vieram os monólogos pelo whatsapp. Ele estava – palavras dele se bem me lembro – chateado comigo porque confirmei ir com ele ao concerto e agora não atendia e ele tinha guardado o bilhete para mim e eu estar a ignorá-lo era um insulto e eu isto e eu aquilo e eu assim e eu assado. Mas agora imaginem isto em monólogos enormes assustadores, com cobranças e expectativas que eu tinha falhado.

Já nem me lembro como descalcei esta bota mas mudei o nome dele no meu telefone para Jorge Chato Nunca Atender para não voltar a cair nesta esparrela e foi isto que contei à outra rapariga. Que ele realmente fazia bastante pressão e não sabia fazer as coisas com calma. E que tinha uma pequena costela de phsyco.

Se me sinto mal por ter estragado logo ali as hipóteses ao rapaz com a rapariga? Acho que não. Porque ela própria já tinha esta impressão dele. Eu apenas a confirmei e lhe evitei uma bela dor de cabeça.

Então é isto, homens: as mulheres contam tudo, TUDO, umas às outras. Por isso, mudem a vossa estratégia de engate em 2018. É um bem que fazem a vocês e a nós.

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