Quem é solteira e, onde quer que vá, tem sempre gente a querer apresentar-lhe o primo da amiga do vizinho do irmão da não sei quantas, levante o braço.
E agora que já tenho a vossa atenção – por favor – parem de fazer isso. Parem, a sério. Porque, a não ser que esse alguém que nos querem apresentar seja o Albano Jerónimo, tenho 99% de certeza que não nos vai interessar. E eu sei que custa perceber – para quem é casado, enamorado e apaixonado – mas estar-se solteira não é solitário e não precisamos da ajuda de ninguém para nos tirar desta clausura. Não é o fim do mundo. Não é o vale das tristezas. É exactamente igual a estar-se casado – mas sem a parte boa de partilhar a cama com alguém. E a verdade é que, embora para muita gente a palavra s-o-l-t-e-i-r-a seja estigmatizante, solitária, triste e um pouco infeliz, para outros não significa nada.
Como é que se sentiram no fim de uma relação complicada? Conseguem lembrar-se daquela sensação de liberdade e novas oportunidades que se entranha na nossa alma? É exactamente essa sensação que todas nós devemos tentar viver todos os dias – solteira ou não.
Ao contrário do cliché Bridget Jones, deitada no sofá a beber Chardonnay, muitas pessoas, como eu, estão simplesmente felizes na sua própria vida. Claro que uma relação traz estabilidade, felicidade, muito sexo e experiências a dois. Sem referir a ajuda preciosa a abrir fechos de vestidos de madrugada, pulseiras e a aplicar protector solar na praia. Mas para quem, simplesmente, se quer afastar de sofrimento e drama, a vida de solteira é, digamos, uma praia no México. Quem é que, no seu perfeito juízo, abdica de uma vida assim para aturar relações doentias? Relações que fazem mal? Relações que nos desgastam mais do que satisfazem?
E antes que pensem que estar-se solteira é viver-se em isolamento e procrastinação – não, não, não. E se procuram envolvimentos de uma noite, eu digo para se lançarem a isso. Não resulta comigo mas se resulta para vocês – rock it, girls. Para mim, criar intimidade emocional leva tempo. E para quem, como eu, viaja com uma grande bagagem atrelada, aventuras de uma noite não funcionam. Talvez porque tenhamos medo de deixar que os outros nos vejam como realmente somos (complexos, imperfeitos, confusos, com falhas e fases nebulosas) ou talvez apenas porque intimidade física pede intimidade emocional. Das (poucas, duas vá) vezes que o tentei, simplesmente não funcionou.
Não é que não tenha sido bom ou a coisa não se tenha proporcionado de forma prática (biologicamente falando). Apenas não houve sintonia.
E depois de relações loooongas, de relações pontuais, de relações em que me arrancaram o coração e o atiraram à parede, simplesmente percebi que colocarmos a nossa felicidade na personificação de outrem, leva-nos, muitas vezes, a contentarmo-nos. E quando compreendemos isso, a contentação deixa de fazer sentido porque há todo um universo de oportunidades à nossa volta e deixamos de ter espaço para pessoas que não valem a pena estar na nossa vida. Acreditem – isto vai poupar-vos uma série de desilusões e frustrações.
Eu não acredito no the one, no tal (e ele claramente também não acredita em mim) e sei que, eventualmente, a minha vida seria muito mais fácil se eu fosse diferente: se aceitasse a companhia de homens que não me satisfazem mas são primos da amiga do irmão da não sei quantas e tão boas pessoas, se me libertasse de toda a bagagem e saltasse, feliz, de relação em relação ou se me contentasse. Viver assim é uma dádiva.
Mas eu estou sempre à procura de mais.
Talvez vos possa dizer que – ser-se solteira – é uma espécie de armadura emocional até aparecer alguém altamente espectacular. E por altamente espectacular refiro-me a alguém que simplesmente está na mesma sintonia de vida que nós e faz click.
Às vezes basta isso – um click no timing certo. E não o primo da amiga do irmão da não sei quantas.
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