Este fim de semana fiquei sem telefone. Assim do nada, sem me avisar ou sem me preparar, morreu. Deixou-me pendurada no sábado à tarde enquanto tentava, desesperadamente, ligá-lo. Acabei por atirá-lo para dentro da mala e fui para casa. Mas agarrei nele, mais vezes que as que quero admitir, numa obsessão incontrolável de entrar em redes sociais, esquecendo-me de que não estava a funcionar.
E – porque é de amor que estamos a falar aqui – dei por mim a pensar como seria tão mais fácil não ter nenhuma rede social e poder simplesmente dizer adeus. Não há nada que custe mais no fim de uma relação do que ver escarrapachado no ecrã a felicidade da outra pessoa. E basta-me rolar um pouco pelo Facebook para ver todos os homens da minha vida por ali espalhados. Sei tudo o que fazem, como estão, com quem andam, onde trabalham, do que gostam, quando saem… Convivem uns com os outros no meu mural.
Há umas semanas, estava no Cais do Sodré à noite e encontrei um amigo que não via há séculos. Rimo-nos imenso, abraçámo-nos, falámos das novidades. “Lena, lembras-te quando dávamos beijos na boca no meu carro?“, perguntou-me ele de repente. E rimo-nos mais ainda. Porque isso aconteceu há uns bons 10 anos atrás quando éramos adolescentes e despreocupados. E – melhor ainda – porque
não há nada mais genuíno do que esbarrar com pessoas de quem gostamos na rua e ter realmente vontade de falar com elas sem a necessidade de fingir que estamos offline para não nos chatearem.
Hoje em dia, ninguém desaparece. Os adeus morreram. E isto aplica-se, em grande escala emocional, às relações. Porque elas acabaram mas continuam ali. À espreita do lado direito do nosso ecrã, a um piscar de um chat, a um “oi” aborrecido, a um comentário, a um like… E não há nada emocionalmente mais perturbador que viver aprisionada a um “oi” numa rede social.
A minha amiga Salomé, que tem realmente olho para estas coisas, está sempre a dizer-me: comigo não há cá meias medidas, eu corto com tudo. Se todas essas pessoas não fazem parte da nossa vida, porque continuam a fazer parte das nossas redes sociais? Porque as deixamos sentar-se na primeira fila da nossa vida?
Quantas vezes não deram por vocês presas a um “oi” insignificante, a uma tentativa frustrada de segurar os restos que existem de alguém num mundo online que não é real? Quantas vezes não colocaram a vossa vida virtual “verde” na expectativa de que a outra pessoa avance? E o que vos pergunto é: para quê?
Quero trazer os adeus de volta. É assim mesmo. Adeusinho e até uma próxima. Quero poder dizer adeus a alguém que não quero mais ver. Quero poder virar costas e saber que só voltarei a saber daquela pessoa se a vida der tantas voltas que os nossos caminhos se voltem a cruzar. Não deveria ser sempre assim?
Estou há dois dias sem telefone. Ok, tenho o computador e continuo a aceder às redes sociais. Mas passei o fim-de-semana todo simplesmente comigo – sem o vício estúpido de estar com alguém e, ao mesmo tempo, a falar com outras pessoas virtualmente. Não tinha telefone mas quem quis estar comigo soube onde me encontrar. Fui almoçar fora, fui ao babyshower de uma amiga, fui ao Palácio da Pena no domingo sem a necessidade de procurar por “ois” num chat.
O que é que sobra de nós nas redes sociais? Expectativas e conversas ocas para ocupar o vazio. O meu conselho? Dediquem mais tempo a quem está “verde” na vossa vida real. Quem realmente vos procura não espera por um sinal de online.
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