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  • Foto do escritorHelena Magalhães

O AMOR É OUTRA COISA #50 O fenómeno Alanis Morissette


Num ano, escrevi 50 histórias d’O Amor é Outra Coisa e – caramba – parece que foi ontem que, depois de chegar a casa ainda com o perfume de um tipo colado em mim (bierghhhh!), decidi começar a escrever uma série de histórias – minhas e não só – que teriam como único propósito mostrar que todos os idiotas com que nos cruzamos têm algo para nos dar: a certeza de que o amor é mesmo outra coisa. E não é o rol de desilusões e relações falhadas que vamos alimentando e carregando às costas.

E ao longo do último ano falei de tanta coisa: traições, corações partidos, ex-namoradas, homens infantis, relações tóxicas, mentirosos, relações falhadas… passei a pente fino uma série de ideias que tenho sobre esta condição biológica com que fomos fadados a viver – nascer para amar (e viver com) alguém.

Se pensarmos no que a psicologia diz, apaixonarmo-nos não é uma questão de destino. É uma mistura de biologia, necessidade, educação e contexto. De qualquer das formas, não deixa de ser misterioso porque razão duas pessoas entram na vida uma da outra se, depois, uma vai acabar por se estatelar contra a parede.

O homem à la Alanis Morissette

Há quem diga que os homens casados/comprometidos são imediatamente mais apetecíveis porque, no fundo, têm qualquer coisa que os tornou, aos olhos de outra mulher, bons partidos. É tipo o Zomato: se um restaurante tem uma boa crítica, já temos vontade de lá ir provar. Neste caso, é quase como se fossem homens de confiança, atestados pela aliança no dedo: sinal de uma boa review. Só que, lá está, há uma linha ténue entre o homem casado de confiança – que não nos liga nenhuma – e o homem casado que nos abre a porta – e, voilá, traidor.

E se o de confiança não nos liga nenhuma, estamos eternamente fadadas a bater com a cabeça na parede ao apaixonarmo-nos sucessivamente por tipos que já têm uma vida com outra pessoa? Este é o que eu chamo de fenómeno Alanis Morissette ou seja a puta da ironia da vida:

It’s like ten thousand spoons when all you need is a knife

It’s like meeting the man of my dreams and then meeting his beautiful wife

Quando nos apaixonamos por um homem comprometido

Isto já me aconteceu: conhecer alguém e ter uma empatia imediata. Olhar para ele e pensar que temos tudo a ver um com o outro e que é absurdo e praticamente inimaginável que haja realmente outra pessoa. Na altura, apetecia-me atirar o barro à parede – gosto de ti, e agora? Dizia para mim própria que, ao longo da vida, vamos conhecendo outras pessoas e é perfeitamente normal apaixonarmo-nos e sairmos de uma relação para abraçar outra.

Mas depois pensava que estaria a contribuir para o fim de uma relação que, sem a minha presença, poderia continuar a ser feliz. E quando me convencia de que tudo era errado e não devia alimentar a presença dele, pensava que o destino não nos tinha posto na vida um do outro por acaso. E entrava neste loop de merdas que nos enchem a cabeça e nos fazem perder a razão.

Na verdade, eu não fiz nada. Estive quaaaaaase a fazer e hoje em dia acredito que tão difícil quanto apaixonarmo-nos por alguém que não sente o mesmo é apaixonarmo-nos por alguém casado/comprometido com quem sabemos que tudo poderia funcionar. Mas somos obrigadas – pelas leis invisíveis da consciência – a não tentar nada.


O ser humano não é monogâmico

Vivemos em sociedade e passamos a vida a conhecer pessoas. Seria estúpido e infantil acreditar que não olhamos para outras pessoas, que não desejamos outras pessoas, mesmo que nunca o cheguemos a concretizar porque optamos por viver em fidelidade. E quando eu digo que o ser humano não é monogâmico, não o digo com uma conotação negativa ou azeda. Aceitarmos esta realidade torna as nossas relações mais saudáveis porque passamos a viver abertos à ideia de que nos podemos encantar por outras pessoas. E isso faz-nos dar mais valor e mais amor a quem temos a nosso lado no momento.

Apaixonarmo-nos é saudável, faz bem ao corpo e à alma, enche-nos de vida e dá um novo significado aos nossos dias. Mas apaixonarmo-nos por alguém casado ou comprometido é lixado. Eu não acredito no provérbio ‘quem chega primeiro à fonte, bebe a água limpa’, por isso não acredito que se possa julgar alguém por se ter apaixonado por uma pessoa comprometida. Mas continuo a acreditar que ninguém entra na vida de outra pessoa por acaso.

E – tal como disse lá em cima – apaixonarmo-nos é uma mistura de biologia (não o conseguimos controlar), necessidade (todos queremos amar), educação (somos educados a procurar um parceiro) e contexto (não temos propriamente culpa se conhecemos uma pessoa depois de ela se casar).

Agora, com 30 anos, talvez não fechasse os olhos a um sentimento que acreditasse ser real “apenas” porque existe outra pessoa. Isto porque, hoje em dia, apaixonarmo-nos é como encontrar uma agulha num palheiro. 

Mas este é um tema sensível e que rapidamente pode descambar para putas e ofensas afins. Por isso, deixemos o resto desta tertúlia para outro dia.

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