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  • Foto do escritorHelena Magalhães

Porque estamos todos a ficar cada vez mais estúpidos? O artigo 13 e a superficialidade das redes soc


Nos últimos dias, enquanto meio Portugal panicava com o famoso artigo 13 e o fim da Internet, eu dei por mim num longo hiato do Instagram sem me aperceber. E quanto mais tempo passo afastada qb, mais estúpido tudo me parece. E isto é um pouco semelhante à Síndrome de Estocolmo: estamos tão dependentes das redes sociais que não nos apercebemos do quão mal nos fazem. Mas quando damos um passo atrás acabamos por ver as coisas de outra perspectiva. Quando voltei a fazer um scroll pelo meu feed no domingo à noite, levei com influencers em soutien na rua mesmo estando 8 graus, a fazerem compras na sua loja de roupa online no café, a tomarem o seu pequeno almoço de Prozis de forma sensual, a passearem o seu creme diário na rua, a mostrarem o seu livrinho que estão a ler (mas é um livro de outra influencer com todos os seus looks diários) e mais roupa e mais roupa e mais sapatos e mais roupa e maquilhagem e roupa e cremes…

E só consigo pensar: estamos todos a ficar cada vez mais estúpidos quando toda a nossa vida gira à volta disto. Lembram-se de antigamente quando fazíamos a nossa vidinha normal e tirávamos fotografias para guardar algum momento especial? Agora vivemos para tirar essas fotografias. Deixámos de ter vida. Porque vivemos nas redes sociais. E eu sei que tudo isto é normal porque é o mundo de hoje. Mas o meu lado cínico continua a acreditar que podíamos todos fazer qualquer coisa realmente significativa ao invés de mostrar diariamente roupa e roupa e roupa. E tudo o que fazemos ou pensamos a todo o santo segundo.

Um dia destes vi alguém que conheço no facebook a dizer que a noite tinha sido infernal, insónias e blá, blá, blá. Mas por que raio temos necessidade de partilhar tudo o que nos acontece? Antigamente não ligávamos de manhã para todas as pessoas que conhecemos para dizer que não tínhamos dormido bem. A outra pessoa iria ficar: hum ok e o que é que tenho a ver com isso? Nada. Ninguém tem nada a ver com a vossa vida. Ou nada que ver porque a linguística em português consegue ser bem picuinhas.

Tenho-me confrontado com muitas destas questões. São conversas de mim para mim, por assim dizer. No outro dia tirei uma fotografia dos meus vernizes porque os tinha acabado de arrumar e estava satisfeita com a organização por cores. E minutos depois de ter a fotografia online, fiquei self-conscious com a mensagem que estava a passar com uma caixa com 60 vernizes. E acabei por a apagar. Estou a usar demasiado estrangeirismo, eu sei, mas o tema puxa por isso. Continuando… eu estou constantemente a pensar na imagem que passo, no impacto que as redes sociais têm na minha vida, naquilo que consumo diariamente. E questiono-me como meio mundo continua a andar por aí  sem sequer reflectir sobre o consumo que faz e a que incentiva. Isso deixa-vos feliz? Toda a porcaria que consomem diariamente online tem algum impacto positivo na vossa vida offline [uau, estou a falar da vida real]?

Este fim-de-semana foi o Blogging for a Cause [o evento solidário no qual estou envolvida e que este ano teve a sua segunda edição]. Angariámos 2300€ que foram totalmente revertidos para alguns projetos sociais que estávamos a apoiar. O evento de uma tarde consistia em várias palestras e workshops de pessoas de relevância no digital como a Ana Milhazes do Zero Waste ou a Fátima Lopes (apresentadora e do Simply Flow) que falou sobre como podemos ter uma vida mais feliz. Fixe, não é? Quando ainda estávamos a comunicar, pensámos em abordar alguns meios digitais que costumam falar sobre coisas giras que estão a acontecer em Lisboa, como a NIT (New in Town). A NIT não quis divulgar o nosso evento. Mas curiosamente divulgou o “evento” de cinco bloggers que iam vender as suas roupas para terem mais dinheiro para comprarem… mais roupas. Atenção que não tenho nada contra isso. Eu própria também vendo muitas das minhas coisas. Mas foi a situação em si, o contexto e o timing que acabou por ser revoltante. Revoltei-me contra a NIT e não contra elas (espero estar a deixar isto bem claro que as pessoas gostam muito de assumir tudo como 8 ou 80 por aqui).

A não-ajuda da NIT acabou por ser irrelevante porque esgotámos os lugares do evento. Mas isto reflete o problema geral das redes sociais – o facto de girarem à volta de superficialidades. Se a própria imprensa incentiva a isso, como é que acabamos por não nos tornar mais e mais frívolos?

Há outra coisa que quero levar-vos a reflectir: o luxo de hoje é o lixo de amanhã. Tudo o que consumimos hoje porque é moda, amanhã estamos a querer vender porque já não nos interessa. Porquê? Estamos a ficar cada vez mais insatisfeitos e mais sedentos de consumir mais e mais e mais? Porque queremos mostrar mais e mais e mais? Entããããão… Gira tudo à volta do mesmo.

Eu não sou contra tudo isto. Eu também vivo disto. Também faço parte desta bolha. E a minha vida mudou graças à internet e às redes sociais. E também estou a panicar um pouco com o artigo 13 e a forma como se vai aplicar na prática (vou deixar de poder mostrar livros e a incentivar à leitura?). Mas apenas continuo a argumentar que as redes sociais não são o melhor uso do nosso tempo se apenas estamos a consumir tretas e a passar a pior imagem de nós próprios.

Porque no final do dia, sim, o vosso perfil é um reflexo daquilo que vocês são. Mas desde quando nos tornámos todos tão superficiais?

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