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  • Foto do escritorHelena Magalhães

Só amizade entre homem e mulher? Bullshit! (mas contem-me as vossas histórias)


Adoro ler histórias de melhores amigos desde sempre cheios de respeito um pelo outro, que nunca aconteceu nada, que nunca houve qualquer sentimento e que é apenas uma amizade cheia de carinho. Adoro porque não acredito em nada disso.

Acredito em amizades de trabalho, colegas que se tornam amigos e cada um tem a sua vida. Acredito em amizades com amigos de namorados ou namorados de amigas. Acredito em amizades de infância (mas acho difícil, nessa altura, nunca ter acontecido nada). Mas amizades castas e sinceras com homens agora que chegámos aos 30 anos e todos queremos encontrar a tampa da nossa panela? Disso tenho sérias dúvidas. Porque nenhum homem quer ser (só) nosso amigo e ouvir os nossos problemas. Ou nos quer saltar para as cuecas, ou acredita que (um dia) isso pode acontecer, ou tem paciência que isso aconteça. Ou é gay, I guess.

Ao longo da minha vida tive muitos amigos. Só amigos. Ficaram para a posteridade? Não. Porquê? Porque todos se apaixonaram ou, entretanto, arranjaram namoradas e desapareceram do mapa. E adorava conhecer a excepção porque – posso estar enganada – só conheci a regra.


O meu melhor amigo Jumbo

Quando era miúda, todas as raparigas estavam apaixonadas pelo – vamos chamá-lo assim – Jumbo. Porque ele fazia anúncios para um hipermercado que não era o Jumbo mas também não me apetece escrever aqui o nome de uma marca que já me tratou mal. Ora o Jumbo, como ficou apelidado, era o típico rapaz giro da escola, sem muitos amigos, meio sombrio e misterioso, que não falava com ninguém mas toda a gente falava dele. Não me lembro como nem porquê, mas eu e o Jumbo ficámos amigos. Talvez porque eu também fosse meio estranha. O Jumbo, para lá dessa sua carapaça, era um miúdo absolutamente engraçado, divertido, com um sentido de humor incrível e, sim, continuava a ser bonito até doer. Nós chamávamo-lo de Camarão porque se se arrancasse a cabeça, tudo o resto era comestível (e só me lembro disto porque fui ler aos meus diários da altura para escrever este post). Quão assanhadas éramos aos 16 anos? Miau.

Éramos só amigos. Mas também havia muitos sentimentos bonitos e confusos à mistura dos dois lados. Como não quando ele ia ter comigo ao Scala (discoteca na praia de S. Pedro do Estoril que, infelizmente, hoje em dia é a shit de um restaurante de sushi ranhoso) e passava as noites avec moi? Falávamos, líamos na cama, passávamos as tardes juntos, saíamos à noite e, como ele me prometia mundos e fundos mas depois fingia que não era nada com ele, a vida acabou por prosseguir. Arranjei outros namorados e o Jumbo para lá foi ficando – na prateleira dos amigos. Claro que eu poderia ter dado o primeiro passo e, quiçá, a coisa se tivesse proporcionado (acho que ambos queríamos mas nenhum fazia nada) mas penso que aos 16 anos nenhuma rapariga tem a capacidade emocional (e mental) para se atirar de cabeça. Mas não pensem que ele era só qualidades: um dia disse-me que um rapaz de calças brancas iria aparecer no Scala e declarar-se, vejam lá! Se hoje em dia um homem me aparecesse de calças brancas, eu acharia que era um concorrente da Casa dos Segredos e era capaz de borrifar Raid mata baratas e formigas. Mas adiante, ele prometeu e eu fiquei na expectativa. E quando chegou ao Scala, estava efectivamente de calças brancas e… nada. Foi só isto. Ficou para lá a falar com outra miúda como se tivesse mudado de ideias. E é por isso que as amizades são difíceis. Porque se cria muita expectativa.

Quando entrámos na faculdade, acho que tivemos uns anos sem falar grande coisa. Já não me recordo muito dessa altura e outros casos e namorados e amigos entraram em cena e ele passou para pano de fundo. Mas a vida voltou a cruzar-nos há uns anos quando já ambos trabalhávamos. E reatámos a nossa amizade tão casta e singela. Jantávamos juntos a toda a hora, saíamos, passávamos noites no sofá a ver filmes. E aí foi ele que, um dia, queimou os fusíveis e cortou relações comigo. Já em adultos. Claro que estava longe de imaginar que um homem bonito pudesse ter algum tipo de insegurança e, sem ver qualquer sinal do meu lado, preferir dar-me um chuto no rabo. Mas também ainda acreditava que pudéssemos ser só amigos e que fosse mesmo só isso. Como quando tínhamos 16 anos. Um homem e uma mulher que gostam de conversar e passar tempo juntos mas não querem sequer pensar nas cuecas um do outro. Mas um homem e uma mulher que gostam de passar tempo juntos… claro que vai haver sempre um lado que vai querer algo mais. E estaria a mentir se dissesse que eu também não queria algo mais. Ou, pelo menos, que não pensava nisso. Fica assim difícil acreditar nestas amizades bonitas e sem segundas intenções. Porque somos todos humanos. E somos todos animais.

Se já estão a pensar que uma história não faz um livro, este não é um caso isolado 

Além do Jumbo, podia contar outras histórias de outros homens que passaram pela minha vida. De outros amigos com quem partilhei histórias e problemas e dúvidas e dramas e horas e horas de tempo passado juntos. De homens que eu achava que eram mesmo meus amigos mas depois… desapareceram. Seguiram a vida deles. Encontraram outras mulheres para cujas cuecas puderam, sim, saltar. E como não fui eu, fui esquecida.

Na verdade, não fico chateada e recordo-me de todas estas histórias com carinho e alguma nostalgia. Porque sei que é a lei da vida. Somos animais com um chip no ADN que nos incita a procurar um parceiro para nos reproduzirmos. Certamente não era o Jumbo. Nem o Rui, um dos meus primeiros grandes amigos até termos trocado uns beijinhos aos 15 anos. Nem o André que nos chamávamos de primos (porque era primo de uma das minhas amigas) até ter aparecido bêbado num carnaval vestido de Axl Rose a gritar à minha janela e, depois, não quis mais falar comigo. Nem o X nem o Y nem Z. Tudo homens com quem partilhei uma parte da minha vida e, infelizmente, por lá ficaram – no passado.

Mulheres que me leem, se têm amigos mesmo só amigos inteligentes, divertidos e interessantes mas com quem vocês não querem nada porque são mesmo, mesmo, mesmo só amigos (não vale se ele for um cabrão à procura de miúdas no Tinder)… vocês só podem ser a excepção à regra.

Se continuarem a ser só amigos, bem, passem para cá… Tenho amigas a querer renovar as suas amizades hihihi.

FYI: na fotografia tenho uma camisola da nova coleção de malhas do Jumbo Moda.

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