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  • Foto do escritorHelena Magalhães

9 coisas que os jovens de hoje nunca vão saber o que é (nostalgia dos anos 90)


Acho que só a minha geração vai compreender exactamente o que vou contar. Porque nós crescemos no mundo em mudança. Nós vivemos o antes da internet VS depois da internet. Ou talvez seja por ser uma rapariga de setembro – dizem que quem nasce em setembro acaba por ser mais saudosista – mas a verdade é que por vezes dou por mim simplesmente com saudades do antigamente. Adoro o mundo em que vivemos agora e as facilidades que nos traz no dia-a-dia mas havia algo mais mágico do que ir ao correio buscar as cartas dos nossos amigos a meio do verão para saber as novidades do que se andava a passar na nossa ausência?

Durante as arrumações do meu escritório, reuni algumas coisas que vivi – e que acredito que tanta gente viveu – mas que os jovens de hoje nunca vão saber o que é.


Escrever cartas só porque sim (e porque era mais barato do que telefonar)

Tenho três caixas de cartas que troquei durante anos com as minhas amigas entre os 13 e os 17 anos. Além das óbvias cartas e postais que escrevíamos durante o mês de Agosto – em que cada uma de nós ia para as suas fatídicas férias em família lá para as santas terrinhas de Portugal (estava a ler uma carta em que uma amiga me dava a morada de casa dos avós e dizia para eu responder porque era mais barato do que telefonar e ri-me tanto porque já nem me lembrava desse pormenor) -, eu e as minhas amigas tínhamos simplesmente o hábito de escrever cartas umas às outras durante o ano todo. Sobre o que é que escrevíamos? Eram basicamente desabafos destinados a essa amiga. Sobre a vida, os amores, os rapazes, os professores, os pais… os dramas do momento. No outro dia sentei-me a ler algumas das que elas me escreviam e sorri muito. E chorei também mas sou uma maria madalena. Porque num mundo em que as pessoas mal falam umas com as outras, nós tínhamos simplesmente o hábito de falar tudo e mais alguma coisa. A nossa rotina era chegar a casa, fazer o que tínhamos a fazer e, antes de dormir, escrever as nossas cartas do dia que seriam depois entregues na manhã seguinte. Nunca ninguém prestava atenção na primeira aula do dia porque estávamos a ler as cartas que nos tinham sido destinadas. Um ou dois anos depois, trocámos as cartas pelos diários em conjunto em que cada uma escrevia e passava às outras para escrever e, quando voltava para mim, lia o que todas tinham escrito e respondia, dava opiniões e debatia os assuntos. Se calhar pensam que não falávamos pessoalmente mas aí é que está: as cartas eram apenas um complemento à nossa vida, uma forma de expressar qualquer coisa mais. Que saudades…


Guardar todos os bilhetes de tudo e mais alguma coisa

Eu sempre fui saudosista, considero-o a minha doença da mente. E se calhar é por isso que guardei tudo, tudo, tudo o que vivi. Tenho centenas de bilhetes de cinema, de concertos, de festas, de viagens, de discotecas, de passeios… tudo tinha um significado. Por exemplo aqui nesta fotografia podem ver variadas coisas: um bilhete de avião da minha primeira viagem em 1999 para Londres com as minhas amigas (e professoras, calma, não viajámos sozinhas com 13 anos), o flyer da antiga Rádio Cidade (leiam em brasileiro Cidadji porque era mesmo assim) no dia da rádio nas escolas (havia festas e música ao vivo nos intervalos), o ciclo de cinema ao ar livre onde fui com um namorado, os antigos bilhetes de cinema do Oeiras Parque onde íamos todas, todas as semanas, a minha primeira vez na Casa do Terror da antiga Feira Popular na festa de anos de uma amiga da escola, um bilhete de barco de quando fomos ter com uns rapazes ao (vejam lá) Barreiro… Todas estas recordações eram preciosidades guardadas com todo o cuidado e, no verso, eu escrevia o momento, a data e o significado. Só assim me lembro destes episódios todos.


Ter dezenas de álbuns de fotografias

Se me dissessem que, um dia, iria tirar fotografias para partilhar com meio mundo numa rede social, ia achar completamente estúpido. Porque as fotografias eram para nós. Eram memórias para colar na parede do quarto e forrar os dossiers da escola. E o momento em que já tinha fotografias e recordações suficientes para preencher um álbum era absolutamente mágico. O simples gesto de folhear as páginas e, em cada uma delas, ter tantas histórias para contar e relembrar era o que tornava os álbuns tão preciosos. Eram memórias para nós e não para uma audiência virtual…



As fotografias representavam um momento e não o look do dia

Sou bem capaz de ter mais de mil fotografias da minha adolescência porque nós éramos absolutamente viciadas nessa ânsia de registar todos os momentos. Mas na nossa geração não tirávamos fotografias em poses sensuais, nem do look do dia (e a roupa era o que menos interessava), nem dos batons, nem dos cremes, nem dos sapatos, nem do brunch… nós fotografávamos momentos. Tudo bem, posso estar a ser extremista porque hoje também fotografamos momentos – apenas embelezamos ainda mais o cenário. Mas, para mim, o que tornava tudo isto especial era a espontaneidade com que vivíamos e fotografávamos. E que se perdeu nos dias de hoje em que tiramos fotografias para ter likes numa rede social.


Ter várias pen friends que nunca conhecemos

Troquei cartas durante anos com amigas “virtuais” por assim dizer. Era mágico o escrever para alguém que vivia sabe-se lá onde e com quem partilhávamos experiências, gostos e, bem, a nossa vida. Uma das amigas com quem troquei cartas durante mais tempo foi com a Alexandra de Santarém que nunca cheguei a conhecer. Contávamos a vida uma à outra e aquele momento em que chegava mais um carta do correio era mágico. Tive também pen friends de outros países com quem trocava posters e fotografias de ídolos. Foi graças à Mara de Itália que tive posters exclusivos das Spice Girls que nunca tinham saído nas revistas portuguesas (e isto era o delírio). Às vezes gostava de voltar a escrever a todas e perguntar como estão passados estes… 15 anos. Um dia, quem sabe…


Coleccionar papel de carta 

Claro que coleccionávamos papéis de cartas – porque escrevíamos muitas. E havia todo um universo de papel de carta para todos os gostos. Depois fazíamos trocas entre amigas e guardávamos as últimas folhas para recordação… que patetice. Mas uma patetice boa.


Antes do Instagram tínhamos mesmo de escrever as memórias

Agora podemos tirar fotografias a tudo mas, antigamente, se queríamos guardar memórias de viagens, tínhamos mesmo de as escrever. Eu escrevia tudo com todos os pormenores numa espécie de dissertação: onde fui, o que comi, o que vi, que avião apanhei, a que horas cheguei, quem disse o quê, quem gostou do quê, o que gostei mais, o que gostei menos… se calhar, era um pouco obsessiva.


E de guardar todos os folhetos e bilhetes

Na primeira vez que saí de Portugal – fui a Londres -, guardei tudo e mais alguma coisa. Até os talões do que comprei, devidamente organizados e presos com um clipe. Enquanto observava estas coisas, comentei com a minha mãe que se calhar demonstrava alguns sinais de um género de compulsão. Ela disse que não. “É das virgens, filha. Somos seres que gostam de guardar todas as memórias“. Talvez tenha razão… Mas a verdade é que agora fotografamos onde vamos: os museus, os restaurantes, as ruas… antigamente só nos restava guardar estes pedaços de memórias para, mais tarde, sabermos que lá tínhamos ido.


Ter todas as fotografias desfocadas porque as máquinas fotográficas não tinham ecrã… (e quando os rolos acabavam?)

Os jovens de hoje nunca vão saber o que é ter de se comprar rolos para se tirar fotografias. E do turn-off que isso era. Lembro-me de chegar a Londres e já ter esgotado todo o rolo só no avião e no aeroporto. Lá fomos nós em grupo à procura de um sítio onde comprar mais três ou quatro rolos que durassem a viagem toda. E 90% das minhas fotografias da adolescência estão desfocadas porque as máquinas não tinham visor e não podíamos ver o que tínhamos tirado. Acho que a minha primeira máquina digital já foi aí pelos 17 anos. Que saudades de ir à loja revelar um rolo e, no fim, ter três fotografias mesmo boas e que iam poder ir para o álbum e para a parede do quarto. E de emprestar os negativos às amigas para elas poderem ir à loja fazer cópias daquela fotografia de grupo que todas queriam.


É isto. Memórias que só quem nasceu antes dos anos 90 vai entender 🙂

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