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  • Foto do escritorHelena Magalhães

As mulheres com filhos também excluem as amigas que ainda não os têm


Sempre ouvi dizer que quando tens filhos é que vês quem são os teus verdadeiros amigos. E é verdade. Percebo plenamente a ideia. Porque conviver com amigas com filhos é a maior treta. Principalmente se forem daquelas que só falam disso e, desde que ficaram grávidas, só há um único tópico de conversa à sua volta – o rebento que carregam na barriga. Infelizmente, as vossas amigas sem filhos não vão acompanhar do mesmo entusiasmo, enfim, é como se deixasse de haver sintonia. É horrível, eu sei. Mas vá lá mulheres com filhos, o problema não está todo em nós – mulheres sem filhos. Eu sei que ainda não vivemos a magia da maternidade, o carregar um pequeno ser na nossa barriga que faz com que nada mais interesse porque temos o mundo em nós. Eu entendo tudo isso. Mas há mais vida para lá da vida que vocês têm nos braços.

Nos últimos anos, algumas das minhas amigas próximas casaram, engravidaram e tiveram pequenos seres a sair de dentro das suas vageges que se transformaram em mini humanos simpáticos que gosto de ver de tempos a tempos. Mas ao fim de dois ou três jantares em que o único tema de conversa é filhos, é lógico que deixo de ir porque, por mais que goste delas, não tenho energia para estar em grupo a ouvir falar de filhos e fraldas e iogurtes e pomadas e dentes e alergias e escolas e todo esse rol de temas maternais que, feliz ou infelizmente, ainda não fazem parte da minha realidade. Cria até alguma pressão e solidão. É o estar rodeada de pessoas que parece que já estão um passo à frente enquanto eu contínuo aqui na minha vida tola que não ata nem desata porque ainda não saltei para a casinha da maternidade neste jogo de tabuleiro que é a vida onde andamos a todos a correr.

Mas queria dizer uma coisa a quem me lê e tem filhos: é que as vossas amigas que não têm filhos, ainda não foram iluminadas com esse amor e não vão ter a paciência que gostariam. E isso não significa que já não gostem de vocês. Significa apenas que querem voltar a ter um pouco da amiga pré-criançada. Aquela com quem jantavam e falavam sobre a vida, aquela com quem iam ao cinema ou lanchar ou à praia ou às compras ou a um bar. Aquela com quem ficavam apenas no sofá a comer pipocas e a ver vídeos no YouTube. E essa amiga não tem de desaparecer por completo só porque agora há um filho que ocupa grande parte do seu tempo.

Eu sei que quando tiver filhos, toda esta conversa me vai parecer certamente (e provavelmente) descabida. Via-se logo que ainda não tinha filhos, imagino o meu eu do futuro a dizer quando ler este texto sabe lá Deus quando. Mas também sei que não vou querer dizer adeus ao meu eu do presente. Porque não sinto que um filho me vá definir e tomar conta de toda a minha vida. Acredito que vou querer continuar a ser eu para transmitir ao meu filho todas as coisas boas que fazem parte de mim e que, tenho a certeza, também o tornarão melhor pessoa.

Mas também vejo acontecer o oposto. Amigas que têm filhos e já só fazem planos com outras com filhos e afastam-se, consciente ou inconscientemente, das suas amigas sem filhos. E isto, enfim, também é normal. Ao longo da vida vamos estar sempre a ter mais ou menos sintonia com as pessoas. E é natural que as nossas amigas com filhos agora passem mais tempo com quem também está na mesma fase da vida que elas e que vos acabem por abandonar um pouco. Acreditem, eu sinto-me excluída constantemente.

Então, acho que é preciso ter sensibilidade para os dois lados. Tanto para nos tentarmos integrar na nova vida das nossas amigas e nos seus horários como para vocês – mulheres com filhos – conseguirem despir por uma tarde ou uma noite o vosso papel de mãe e vestirem a vossa capa de mulher.

Porque essa capa é a que nos vai acompanhar a vida toda.

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