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Foto do escritorHelena Magalhães

Como despedir-me do meu emprego e tornar-me freelancer mudou a minha vida


Estou constantemente a receber emails de pessoas que querem mudar de vida. Pessoas que estão fartas dos seus empregos, que se sentem infelizes a fazer o que fazem, que querem correr atrás de um sonho, que querem montar um negócio próprio… O que é que todas têm em comum? Medo. E é exactamente por isso que tantas se vão deixando arrastar.


Deixem-me falar-vos sobre o meu passado. Licenciei-me numa coisa. Fiz um mestrado noutra. E pelo caminho sentia-me a pessoa mais infeliz à face da terra. Passei para o jornalismo e, a dada altura, senti realmente que tinha encontrado o meu lugar no mundo. E encontrei – porque escrever é literalmente a minha vida. Mas eu queria escrever coisas que pudessem, de alguma forma, mudar a vida das pessoas. Queria contar histórias. Queria pegar na beleza – uma das áreas em que trabalhava – e fazer dela uma arma de empowerment para as mulheres e não apenas conteúdos consumistas e faits divers. E não o estava a fazer.

A desmotivação

Mas havia tudo o resto a aumentar a desmotivação: as mensagens a meio da noite. As jornadas de trabalho de mais de 15 horas. A pressão. A privação de sono. E o escrever coisas com as quais não me identificava. Dia após dia. Semana após semana. Mês após mês. Eu sabia que havia qualquer coisa de errado com esta vida. Porque não era isto que queria fazer. Mas, ao mesmo tempo, sentia que abandonar a empresa que me tinha aberto as portas era ingrato. Era uma desmotivação misturada com gratidão que me fazia aguentar o barco.

Os amigos mal me viam. Namorados nem vale a pena falar (como manter uma relação com alguém quando no tempo que tens livre só queres dormir?). Os meus pais estavam constantemente preocupados. E o meu corpo também se ressentia. A cabeça – ui a minha cabeça – essa gritava para saltar fora. O mais rápido possível.

O momento do click

Não sei quando se deu o click mas simplesmente um dia de manhã acordei e percebi que não aguentava mais. Estava farta de ter picos de muita felicidade (quase todos ao fim-de-semana) com picos de infelicidade extrema (durante a semana de trabalho). E simplesmente deixou de me fazer sentido trabalhar 12 e 15 horas por dia. Tinha acabado para mim. E liguei à minha mãe.

– Mãe, preciso de sair deste emprego. Desculpa.

Mas, felizmente, a minha mãe foi sempre a minha principal e primeira apoiante. Foi ela que me levou, durante anos, para todas as coisas que eu decidia que queria fazer: futebol, ballet, voleibol, basquetebol, teatro, aulas de viola, dança… Foi ela que amparou todas as milhares de fases por que eu passei: quando decidi que queria vestir-me como o Axl Rose e lhe implorei por uma mochila de pele e umas botas militares. Ou quando decidi que, afinal, ia ser igual à Geri (girl power!).

– Sai. Vamos arranjar uma solução.


Eu, em, 1995 na minha fase Axl Rose ou Steven Styler. Não queria casar com eles. Eu queria ser igual a eles. O timing da mudança

E chegamos à parte que todos anseiam ler. A minha vida mudou no dia seguinte? Não. E este é o timing onde grande parte das pessoas se espalha ao comprido. Mudar de vida implica sacrifícios, ajustes e uma grande dose de saber lidar com a pressão social. E estas são as dicas que dou a qualquer pessoa que esteja no limbo da sua vida:


1. 

A pressão social vai ter um impacto brutal.

Eu estava desempregada e não tinha grande coisa para contar a ninguém. Agora que tinha todo o tempo do mundo para fazer tudo o que não havia feito, sentia-me completamente deslocada. “Então, vais continuar a brincar aos blogs?” ou “O que é que fazes mesmo durante a semana?” eram algumas das coisas que eu ouvia. Não tinha dinheiro por isso não tinha jantares fora, noites, férias nem passagens de ano em grande. Mudar de vida implicou vender o meu carro e comprar um mais barato que me desse alguma segurança mas, ao mesmo tempo, que não me obrigasse a um grande investimento mensal. Optei por um Dácia a GPL. “Tens um carro de pobre“, cheguei a ouvir – o que é irónico porque optar por um carro acessível mas ficar com dinheiro para sobreviver foi uma estratégia até bastante rica. Mas sim, era verdade e tive de a assumir. Eu estava pobre. Não passava fome nem dormia na rua porque tinha pais que me ampararam como a um bebé. Mas tudo aquilo que eu conhecia como sendo a minha pessoa, deixou de existir. Eu era apenas eu, sem mais nada. Sem uma profissão atrás da qual me esconder. Mudar de vida implica sacrifícios sociais para os quais toda a gente tem de estar preparado.


2. 

Antes de colher resultados, é preciso plantar sementes. 

Muitas das coisas que fiz naquela altura, não me foram pagas. Aceitei trabalhos gratuitos, escrevi para muitos meios a troco de nada, investi neste blogue e percebi que tinha de começar a ser activa. Precisava de plantar sementes por todo o lado. Precisava que as pessoas me vissem, se lembrassem de mim. Mandava emails para todas as revistas e jornais, inventava projectos, sugeria os meus serviços para tudo e mais alguma coisa. Ouvi tantos, tantos nãos. Mas sempre acreditei neste mantra: Nem sempre importa receber dinheiro, importa fazer sinergias e conhecer pessoas. Quanto mais plantamos, mais vamos receber.



3. 

É importante desligar da importância que se dá ao que os outros pensam.

Costumam dizer que só um empreendedor consegue compreender outro empreendedor e isto faz todo o sentido. Para quem tem um emprego normal, um salário a cair ao fim do mês e uma vida estável, as indecisões, inconstância e vida que um freelancer leva não é compreendida. Muitos amigos olhavam para mim com um olhar piedoso – coitada de mim, estava desempregada. “Quando é que vais arranjar um emprego a sério?“, chegaram a perguntar-me. E para quem não se consiga desligar da opinião alheia, isto pode ser aterrador. Eu foquei-me em quem tinha as mesmas ideias que eu. Ia tomar cafés com pessoas, fazíamos noitadas a falar de projectos e comecei a criar uma rede de empowerment. Se isso vos vai dar alguma coisa? Não. Não podem querer criar contactos só com o objectivo dessa pessoa ter algo material para vos dar. Falo de motivação, inspiração, cooperação e ambição. Quatro conceitos essenciais a qualquer empreendedor.


4.

 Têm de aprender a fazer o vosso marketing pessoal. 

Trabalhando numa empresa, somos apenas porta-vozes das qualidades dessa empresa. Quando era jornalista, nada era sobre o que eu tinha para dar mas o que a revista onde trabalhava tinha para dar. E fazer esse trabalho pessoal não é fácil. Antes de se quererem tornar freelancers, lançar um negócio ou criar um projecto, criem a vossa identidade profissional. Porque por mais que eu soubesse que era boa escritora, jornalista e criativa, tinha de me saber vender e falar por mim própria. Ninguém se ia lembrar de mim se eu não mandasse dezenas de emails, mesmo depois de ouvir um não. Ninguém se ia lembrar de mim se eu não fosse falar pessoalmente com alguém mesmo depois de essa pessoa ter ignorado o meu email (e acreditem, muitas vezes só me apetecia esconder num buraco quando me encontrava cara a cara com alguém que me tinha ignorado). Ninguém se ia lembrar de mim se eu não estivesse sempre a dar as minhas opiniões, a defender-me e a falar por mim própria. Eu simplesmente criei a minha campanha de marketing.



5. 

Preparem-se para viver alguma solidão.

Não falo de solidão física porque passo imenso tempo em cafés a escrever, falo com os meus amigos pelo whatsapp durante o dia, passo horas ao telefone e agora estou num projecto onde passo algumas tardes da minha semana num escritório com um grupo de pessoas empreendedoras e com as quais estou a aprender imenso e a voltar ao meu “eu” mais regrado.  Mas a solidão emocional bate à porta muitas vezes e é preciso prepararmo-nos para ela. Por mais que os meus amigos mais pessoais me tenham apoiado nestas fases por que passei nos últimos dois anos, tenham acreditado nas minhas ideias e me tenham tentado ajudar a colocar algumas em prática, ninguém vai viver na nossa pele o medo diário que muitas vezes me assolou e vos vai assolar. O medo da falta de dinheiro, o medo do não, o medo de que as portas se fechem, o medo do nada. Porque não há outro colega de trabalho com quem passar a hora de almoço a reclamar do patrão. Simplesmente, não há ninguém e só dependemos de nós próprios. E esta solidão emocional leva muita gente a desistir.

Dois anos depois

O que é que mudou para mim nos últimos dois anos? Passei do nada para uma série de projectos. Que é o mesmo que dizer que me afundei, precisei de ir até ao fundo para tocar lá com os pés, fazer um impulso para cima e finalmente dar uma golfada de ar. Estou a escrever um livro, montei o #VIVEATUABELEZA, o Observador abriu-me as portas, criei projectos para várias marcas de beleza, conheci imensas pessoas da minha idade, empreendedoras, criativas e fantásticas, ajudei-as nas suas ideias ao mesmo tempo que absorvia poderes para as minhas, escrevi para imensos meios, viajei, entrevistei pessoas fantásticas, tive a oportunidade de melhorar as minhas capacidades pessoais e profissionais, fiz um curso de escrita, perdi o medo de ir bater às portas, comecei a falar por mim própria e a defender as minhas capacidades, fiz trabalhos que me deram muito dinheiro com o mesmo brio com que fiz os outros em que não me pagaram nada, surgiu a oportunidade da crónica no Brasil Post e, actualmente, o projecto com a Primetag.

E quando falo da importância das sinergias é exactamente aqui que quero chegar. Muitos destes projectos que me chegaram foi através de alguém que conhecia alguém e se lembrou de me recomendar. Plantei tantas sementes que, agora, finalmente estou a ver as minhas flores a crescer.

Se tenho medo? Tenho-o todos os dias. Porque nada disto é certo. Aprendi a poupar, a viver com moderação, a ser flexível e a ter a dose certa de humildade para saber que tenho de estar disponível para os outros se quero que também estejam disponíveis para mim. O primeiro ano foi literalmente um ano de auto-conhecimento. Conheci os meus limites e aprendi mais sobre mim do que em toda a minha vida.

E o que é que tenho mais para vos dizer? Nada. Não há uma solução eficaz. Cada puzzle é individual e cada pessoa levará o caminho que tiver de levar para perceber a melhor forma de encaixar todas as peças nos sítios certos. Não há uma fórmula mágica. O que vos vai fazer atingir o sucesso é perceberem de que forma poderão ligar aquilo que vocês são com aquilo que vocês quererem fazer.

Dito por outras palavras, saber aplicar a vossa singularidade no mundo, como diria o pai da Gisele Bundchen.

Fotografia tirada por Faz de Conta Fotografia

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