O Tinder está a estragar o romance?
Embora eu não seja a melhor pessoa para falar de modernidades virtuais – porque me tento afastar ao máximo de todas estas formas de relacionamentos que não envolvam contacto real entre duas pessoas – ontem estava a ver este documentário sobre a indústria do amor virtual e, de facto, potencia aquilo que, afinal, todos procuramos: contacto humano e proximidade física. Quando saímos da faculdade, a probabilidade de conhecermos pessoas novas constantemente começa a diminuir. E o emprego continua a ser o sítio onde a maior % das pessoas conhece a sua outra metade. Só assim de repente, lembro-me de cinco ou seis amigas que conheceram os namorados através do seu trabalho.
No entanto, não consigo deixar de ver app’s como o Tinder como o lento e gradual fim do romance. As pessoas mostram, muitas vezes, o seu pior lado, não se esforçam, vão com um objectivo em mente (sexo, sexo, sexo!) e o acto de folhear fotografias como cromos numa caderneta torna toda esta questão de escolher alguém altamente superficial. Nas últimas duas semanas andei no Tinder – fiz um perfil com duas fotografias (onde mal se percebia a minha cara), nas informações coloquei que era escritora e escrevi uma das minhas frases favoritas: ‘Dumbo could always fly, he just needed a magic feather‘.
E comecei a distribuir likes. Mas para não acharem que já escolhi de antemão pessoas que tivessem probabilidade de criar todas estas conversas estúpidas que vão ler, saliento que só fiz likes em tipos cujo perfil era interessante e demonstravam ser, à partida, normais. Eram todos tipos com quem, na vida real, eu poderia facilmente ter criado alguma empatia caso os conhecesse num bar. Eu sei que, na maioria dos casos, entrei a matar. Mas foi mesmo de propósito. Para ver se conseguia separar o trigo do joio.
Aqui está a razão porque o Tinder está a destruir os últimos bons homens à face da terra. Ou, em última análise, porque não é lá que vão encontrar a vossa alma gémea.
E aos 27 anos, o Daniel já deveria saber manter uma conversa normal. Como ‘aeromoço’ não é a profissão mais excitante do mundo, dizer que é ‘stripper’ é super inteligente.
O Nuno matou-me logo ali com o ‘chamava-te mamã’. Really? Se ele estava à procura da melhor forma de fazer uma mulher perder o interesse nele, conseguiu. Yeah!
Aqui o João, dizia no seu perfil que era dono de um café. Daí que eu tenha começado a conversa a pedir um café. E foi uma forma mais ou menos inteligente de quebrar o gelo. Mas depois pareceu-me que estava num episódio do Dexter. Que creepy.
Lábios pintados, saltos altos, lingerie, corpetes, cabedal, chicote… #loser
Nunca se deve assumir que se é preguiçoso. E muito menos que se é um engenheiro preguiçoso. E muito menos que se acordou às seis da tarde numa segunda-feira. Neeeeeext!
Serei a única a achar que levar para a cama 4 mulheres diferentes num mês é anormal? Claro que se ele encontrar uma especiaaaaaaal, a coisa é diferente. Right. #byefelipe
Sigam a página @byefelipe no Instagram – é uma conta que mostra as coisas idiotas que os homens dizem em conversas virtuais.
Só perguntei o que ele queria fazer depois do copo, para perceber se se referia a jantar ou a sair para qualquer lado. Na verdade, só perguntei para ver se ele agarrava o isco – e claro que agarrou. Sexo, sexo, sexo. E ainda por cima não toma banho. Coitado.
Eu fui googlar este tipo – pelo nome da banda – e descobri-o no Facebook. E tive pena porque ele é bonito, a banda é interessante, o som deles é diferente e, se o tivesse conhecido em qualquer outro sítio e não se tivesse armado em pseudo-culto-vou-falar-de-fractais, poderia ter-me interessado por ele. Mas como ele quer miúdas que saibam o que são fractais, tive de me contentar com a minha estupidez. A parte do satanás foi linda, eu sei ahah.
Não sei o que deu a este tipo para se por a contar esta história. Por favor, homens. Não contem histórias do Tinder. Mais vale darem-nos a cantiga do bandido de que é a primeira vez que estão a usar a aplicação, blá, blá, blá.
O Gonçalo e o Mário são pessoas diferentes. Mas com estupidez igual. E, para quem viu a série Gossip Girl, leiam, por favor, a minha frase com a entoação da série ah ah ah!
Estão aqui 11 tipos. É assustador que, em 11 homens, não houve nenhum – nenhuuuuuum – que se aproveitasse ou fosse virtualmente interessante.
E é por isso que estou sempre a bater nesta tecla.
Nós apaixonamo-nos pela linguagem corporal, pelos cheiros, pelo facto de estarmos ao pé de uma pessoa, pela voz, pelo toque, pelo sorriso, pelas expressões. Não nos apaixonamos por frases escritas, por troca de mensagens nem por fotografias. Apaixonamo-nos pelo sentido de humor, pela forma como a pessoa nos faz sentir com a sua presença, pela sua gargalhada. E embora aplicações como o Tinder e sites de encontros possam potenciar a forma como podemos, ou não, conhecer pessoas, é impossível criar uma empatia mínima – que leve a um primeiro encontro – quando, do outro lado, a pessoa nem sequer se esforça para que isso aconteça e anda à caça de cuecas para essa noite.
Eu gosto de pensar que tudo na vida acontece num registo de serendipity – os acasos que fazem com que nos aconteçam coisas boas. Mas tropeçar no Tinder não é um acaso. Os homens confundem sentido de humor com sexo. Acham que simpatia significa sexo. E inteligência significa sexo. Tudo gira à volta de sexo.
E este é exactamente o tipo de sexo que mata o romance.
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