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  • Foto do escritorHelena Magalhães

E se as redes sociais desaparecessem? Vida, trabalho e o vício da validação virtual


Então o que fizeram ontem à noite sem Instagram nem Facebook?


Pergunto isto porque vivemos tão obcecados com as redes sociais que nos esquecemos do básico da vida: sabermos estar entretidos connosco próprios a fazer qualquer coisa que não seja preocuparmo-nos com quantos likes tivemos numa foto. Parece que as redes sociais estiveram em baixa e meio mundo ficou nervoso.

Eis o que podem fazer ao invés de passar horas a andar pelas redes sociais a ver a vida fabricada de outras pessoas ou a tentar fabricar a vossa: ler livros, ver séries, ligar aos vossos amigos para saber se está tudo ok, ler uma história infantil aos vossos filhos, dar um passeio com os vossos cães, brincar com os vossos gatos para que não durmam o dia todo (ou tartarugas ou camaleões ou coelhos ou hamsters ou peixes ou o que quiserem), conversar com os vossos pais, regar as vossas plantinhas, escrever um diário para guardarem os vossos pensamentos e estados de espírito, fazer amor com a vossa cara metade, ver a telenovela que, pelos vistos, ainda muita gente vê (a TVI garante 1.4 milhões de espectadores diariamente), jogar cartas ou qualquer outro jogo que implique interacção real com outras pessoas, ir beber um café ali ao fim da rua com a vossa amiga, fazer um qualquer curso online para aprender qualquer coisa nova…


A lista do que podemos fazer sem estar dependentes das redes sociais para nos entretermos é infinita. Eu passo muito do meu tempo livre a ver séries na netflix (agora estou a ver Sisters, Orange is The New Black e Notícias em Grande), a ler (estou a terminar a Carruagem dos Órfãos) e a escrever, claro.


Quando o mundo acha que o número de seguidores equivale a sucesso e o caso da Ivete Sangalo VS Mariah Carey


Parece que, durante a semana, houve um petit feud engraçado com a Ivete Sangalo e a Mariah Carey. Consta que a Ivetxinha deixou uma série de comentários meio tolos nas fotografias da Mariah e, em resposta, a diva começou a seguir a rainha do Brasil. A Ivete fez uns stories a atirar-se para o chão de felicidade por ter recebido o follow da diva. Até aqui tudo bem até porque as duas já estiveram juntas e isto pode ser apenas uma estratégia de marketing para qualquer coisa que aí possa vir.


Mas veio logo meio Brasil opinar que a Mariah Carey é que se devia sentir orgulhosa por ter a Ivete a comentar as suas fotografias porque esta tem o dobro dos seguidores.

E é aqui que se vê como as pessoas não têm sequer noção do que é o sucesso palpável. Não estando a tirar crédito à Ivete, a Mariah Carey é provavelmente uma das maiores artistas do século. Li algures que ela está nos recordes do guiness. Vendeu mais discos que o Michael Jackson ou o Elvis Presley (não tenho a certeza destes dados serem realmente assim). É considerada a maior cantora dos anos noventa. E tal como a era das supermodelos acabou, há também quem diga que a Mariah Carey foi a última das grandes divas da música.


Então, óbvio que o sucesso não se mede pelo número de seguidores. Pensar isto é tão estúpido como ter lido uma influencer dizer que se sentia orgulhosa barra chocada barra estupefacta por ter mais seguidores que a J.K.Rowling. Quem é que pensa isto? Quem é que acha que seguidores equivale a sucesso? A J.K.Rowling tem 22 mil seguidores mas este ano atingiu o marco de 500 milhões de livros vendidos em todo o mundo, traduzidos para 80 línguas, sendo a saga literária que mais vendeu na história da literatura. Isto é qualquer coisa, não? Ainda se vai falar dela daqui a mais dois mil anos. Irá falar-se das influencers do Instagram?


Mas agora vamos lá falar de coisas sérias. Trabalham e dependem do digital?


Então para quem vive das redes sociais enquanto negócio, gostava de falar de uma ideia muito simples: se o vosso negócio ou forma de ganhar a vida depende de uma plataforma que não é gerida por vocês e que um dia pode simplesmente alterar os seus termos de serviço e desaparecer ou a vossa conta ser fechada, vocês ficam simplesmente sem nada. Então, na prática, vocês não têm nada.


Esta ideia de fama virtual é muito frágil porque se não estão a criar nada com ela, um dia vai desaparecer. Se dependem apenas de likes e seguidores para ganhar dinheiro de marcas, não estão a construir nenhum negócio ou carreira. Porque têm de criar qualquer coisa palpável que dependa apenas de vocês. As influencers internacionais estão a criar marcas próprias, empresas e negócios e a usar o nome delas no mundo virtual para dar um push às suas próprias vendas.


Dou-vos o meu exemplo: uso as redes sociais para dar um push ao meu nome para vender os meus livros. Se também ganho dinheiro com a minha presença virtual? Claro. E adoro escrever por aqui, comunicar com tantas pessoas através das redes sociais e mostrar-vos um pouco da minha vida através delas. Mas o meu objetivo final é chegar a mais pessoas no mundo virtual para, dessa forma, vender mais no mundo real. Esta é a minha pegada real.


E porque é que estou a falar disto agora? Porque quem depende de likes e seguidores e é viciado em bots e likes falsos para enganar marcas, tem até ao final do ano para mudar a sua forma de actuar virtual. O que é que vai mudar?


O Instagram já publicou que até Dezembro, vai alterar muitas das suas políticas e recursos, entre elas: – a possibilidade de se publicar comentários em nome de um usuário; – fazer likes em nome de um usuário; – e ler a informação de um perfil em nome de um usuário.


O que é que isto significa? Quem usa bots para fazer e receber comentários, likes e seguidores, vai simplesmente deixar de o poder fazer e as suas contas vão ficar paradas.

Para quem depende deste movimento virtual, isto pode assemelhar-se a um cenário apocalíptico mas pode ser uma forma de deixarmos de ver as redes sociais como um apêndice essencial da nossa vida diária.


O que é que iria acontecer se as redes sociais desaparecessem?


Pessoalmente, adoro ler o reddit e as ideias que as pessoas têm sobre os mais variados temas. Sobre este tema em particular, mostro cinco respostas meio irónicas mas que nos dão que pensar. E se as redes sociais subitamente desaparecessem?


– “Acho que forçaria a introspecção. Por que diabo é mais importante fazer likes em fotos de pessoas que não conhecemos se vamos ignorar as pessoas ao nosso redor? Acho que a reacção da sociedade seria o caos e as pessoas não saberiam como lidar com isso”;

– “As raparigas adolescentes iriam morrer de falta de atenção”;

– “Depois do choque inicial, acho que nos iríamos tornar pessoas mais felizes. Menos comparações com pessoas que mal conhecemos e só iríamos manter contacto com amigos íntimos”;

– “Iria haver uma epidemia de depressão e provavelmente suicídio por as pessoas não estarem a obter a sua falsa sensação de validação diária”;

– “As pessoas iriam correr freneticamente pela cidade, colando fotos de si mesmas nos postes. Uma súbita falta de validação levaria muitos ao suicídio. Mas a produtividade aumentaria exponencialmente”.


Em conclusão: saiam das redes sociais! Vivam, façam coisas com as pessoas que vos rodeiam, passem tempo com elas, interajam realmente com os outros e não através de likes; Criem projectos, desenvolvam ideias e não dependam de seguidores numa aplicação; E passem mais tempo convosco próprios.

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