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  • Foto do escritorHelena Magalhães

Se Friends fosse a vida real, tinha acabado na 3ª temporada porque a Rachel e o Ross iriam odiar-se


Lembro-me de ver Friends há uns anos quando passava na televisão mas nunca foi uma série que tivesse visto do princípio ao fim. Era daquelas que via episódios quando os apanhava à noite e nada mais. Eis que comecei a ver Friends desde o início na Netflix e toda a minha vida mudou. Para já, quero voltar aos anos 90 e vestir-me exactamente como elas porque adoro praticamente todas as roupas com que aparecem. E depois, há tanta coisa irreal a acontecer na série que acho que é mesmo isso a chave do sucesso.

Deixem-me focar-me apenas numa questão: Ross e Rachel. Ora, a Rachel conhecia o Ross desde sempre como o irmão estranho da sua amiga Monica. Mas depois do secundário, a Rachel e a Monica nunca mais se viram até a Rachel aparecer de vestido de noiva, como que por magia, no café onde Monica e os amigos convivem. Como se isso não fosse já absolutamente irreal. Além de que ainda não havia redes sociais para a Monica poder avisar ao mundo que estava naquele café. E mais: pede para ficar a viver com Monica porque abandonou o noivo no altar. E assim se cria a grupeta de seis amigos. E eis que todo um romance entre a Rachel e o Ross nasce.

Até aqui tudo bem. Um dos namorados com quem estive mais anos era meu amigo, nunca lhe achei piada nenhuma até, subitamente, estarmos apaixonados. Acredito nestas coisas. Só não acredito na Rachel e no Ross a ficarem amiguinhos depois de Ross a trair com a rapariga estranha da papelaria. Se Friends fosse a vida real, a série tinha acabado aí porque a Rachel ia deixar de viver com a Monica porque não queria ver o irmão dela, provavelmente ia voltar para a casa dos seus pais ricos e esquecer-se durante mais uns quantos anos da existência destes amigos que conheceu no Central Perk. Talvez voltasse lá para a temporada oito.

Eu acredito nas amizades depois das relações. E sou amiga de todos os meus namorados e namoricos. (pronto, menos do Espanhol, mas já sabem como foi). Mas estas amizades precisam de tempo para serenar as dores e distância para cicatrizar as feridas. É preciso fazer-se um luto antes de se reatar as amizades que nascem das cinzas de uma relação falhada. E é preciso saber lidar com os sentimentos que ficam à deriva. Se um dos dois está zangado, sente-se traído e abandonado, provavelmente vai demorar um longo tempo a conseguir criar uma relação com a outra pessoa e isso não acontece num fim-de-semana na praia como com a Rachel e o Ross. Ou nunca se irá criar porque às vezes as pessoas magoam-nos tanto (e partem-nos a alma em tantos bocados) que nunca mais as ver é mesmo o melhor a fazer.

Mas, ainda assim, eu acredito que duas pessoas que se amaram, que foram importantes na vida um do outro, que partilharam as famílias, que fizeram planos de vida futura, que sonharam juntas podem continuar a fazer parte da vida uma da outra. Será que conseguimos mesmo dizer adeus e nunca mais olhar para trás para tudo o que se viveu e partilhou?

Eu gosto de saber sobre as pessoas que amei. Fico feliz por as encontrar na rua, por receber uma mensagem delas ou um olá tudo bem no chat. Desejo bem a todos os tipos que me passaram pela vida, mesmo aqueles que me deram cabo da cabeça e do coração. Mas é exactamente isto que quero partilhar: pode (e tem de) haver um período de dor e de raiva mas isso acaba por desaparecer e, quando isso acontece, é quando o momento da amizade pode surgir. Ou seja, como foi o Ross a trair, na vida real ele iria para fora uma temporada ou duas e voltaria talvez na quinta temporada para reatar a amizade com a Rachel e o grupo voltaria a ser tão feliz quanto era no início. E depois poderíamos começar a analisar toda a relação Monica e Chandler que também tem pano para mangas.

Perguntam-me muitas vezes se hoje em dia me dou com o Pila Pequena ou o Flash ou todos aqueles personagens do Diz-lhe que Não e se eles não se viram retratados no livro. Primeiro, duvido que algum deles tenha sequer lido. E claro que me dou com eles. Não os vejo no meu dia a dia, não vamos jantar fora, não falamos sobre a vida, não partilhamos sonhos e objetivos. Mas trocamos mensagens nas redes sociais, vemo-nos ocasionalmente em jantares de grupo ou noutras situações e é quase como se as nossas vidas nunca se tivessem cruzado. Existe o carinho de duas pessoas que já tiveram uma relação mas todas as mágoas desapareceram. Fica a cumplicidade que faz com que esses momentos não sejam constrangedores. Pelo menos comigo.

Agora vou ver mais um episódio de Friends que está na fase em que a noiva inglesa do Ross terminou tudo com ele porque a chamou de Rachel no altar.

Quão estúpido seria isto na vida real? 🙂

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