Uma das coisas que mais me lembro da minha infância é de ter livros. Muitos, muitos livros. Se não fosse pela minha mãe, se calhar não me teria tornado escritora. Se me considero escritora? Durante muito tempo sempre disse que não. Dizer que era escritora parecia-me tão estúpido como dizer que era astronauta. Só porque escrevia num blogue? Só porque escrevi um livro que até está a ter algum sucesso? Se acordo de manhã e a única coisa que me apetece (e sei) fazer é escrever, então é porque sou mesmo escritora.
Factos que não me lembro assim tão bem mas a minha mãe não se cansa de os contar: fui a primeira da turma a aprender a ler. Em Dezembro já lia sozinha. Era tão rápida a fazer tudo (provavelmente porque aos seis anos já era compulsiva como agora) que acabava todos os trabalhos rápido para ter o bónus de ir para o cantinho da leitura da sala. Enquanto toda a gente fazia desenhos, eu escrevia palavras ao calhas. Enquanto os meus colegas se divertiam a pintar, eu divertia-me a fazer caligrafias. A minha mãe ainda hoje guarda folhas da numeração romana (lembram-se de fazermos isto na escola? Era tão chato) escritas sempre em várias caligrafias diferentes.
Coisas que me lembro: de ter nove ou dez anos e ir passar o mês de Julho ao trabalho da minha avó porque a minha mãe não queria que ficasse sozinha em casa e, nesse ano, não quis ir para a colónia de férias. A minha avó trabalhava como empregada na casa de uma família e aquilo era o parque de diversões para mim. A casa tinha três andares e, no do meio, uma biblioteca. Lembro-me de passar os dias lá enfiada e ler dezenas de revistas Seleções do Reader’s Digest e de folhear e ler tantos, tantos livros que lá existiam. A minha avó dizia-me para ir brincar para o quarto dos brinquedos (a família tinha duas miúdas mais novas do que eu) que na memória que tenho me parecia um quarto de sonho atafulhado de Barbies e brinquedos incríveis. E eu ia, mas também me lembro do sofá castanho de pele da biblioteca e de lá passar muito tempo.
Em criança, havia um livro em particular que me lembro de amar: um com animais do campo e da história ser passada no inverno e na neve e ter desenhos maravilhosos. Não faço ideia que livro era, só me lembro de o folhear muito e de adorar. Quando já lia, claro que me apaixonei pela Anita, pelos Uma Aventura e por aí em diante. E havia um género que eu gostava mesmo muito que eram aqueles enormes que traziam adivinhas, lendas, histórias, anedotas como o Novas Flores para Crianças que guardei até hoje. E que ainda se vendem (vejam alguns aqui).
É exactamente por isso que gosto tanto de falar de livros infantis e juvenis. Porque o mundo que construía para mim era tão mágico e maravilhoso (graças aos livros) que gosto sempre de incentivar as mães a apostar muito na literatura infantil.
Como essa ainda não é a minha praia – longa vida aos romances young adult que, por enquanto, são o meu foco – eu e a Paula convidámos a Vera Dias Pinheiro do blog As Viagens dos Vs para partilhar alguns dos livros infantis do momento e que os seus filhos adoram.
Este é o nosso primeiro BOOKCAST infantil que, a meu ver, está muito, muito divertido! Por isso, mães desta geração: ouçam 🙂
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