top of page

E se dessem por vocĂȘs num chat com 10 mulheres que andam a dormir com o vosso
 namorado?

  • Foto do escritor: Helena MagalhĂŁes
    Helena MagalhĂŁes
  • 16 de mai. de 2018
  • 4 min de leitura

Um dia destes na aula de hidroginĂĄstica conheci uma rapariga e, porque aquelas aulas sĂŁo mais conversa que exercĂ­cios, acabĂĄmos a falar de Tinders e Happns e relaçÔes e homens e afins. NĂŁo Ă© defeito, Ă© feitio. E ela contou-me uma das histĂłrias mais bizarras que ouvi nos Ășltimos tempos. E eu jĂĄ ouvi muita coisa, acreditem.

EntĂŁo começa assim: ela tem uma amiga que andava feliz da vida a sair com um tipo que tinha conhecido e de quem atĂ© estava a começar a gostar. Era um tipo giro, cheio de pinta e uma boa conversa. E nĂŁo Ă© que a relação estivesse assim tĂŁĂŁĂŁĂŁo assumida, entendem? Mas as coisas sĂŁo como sĂŁo. As pessoas deixam fluir e vĂŁo confiando. Porque, na verdade, Ă© assim que tem de ser. Umas vezes corre bem, outras corre mal. AtĂ© que um dia a amiga dĂĄ por ela num chat de whatsapp com mais nove ou dez outras mulheres e ele larga a bomba: apanhei a doença X e foi uma de vocĂȘs que me pegou, por isso vejam quem Ă© que tambĂ©m estĂĄ infectada e peço desculpa por qualquer coisa.

Não sei se foi bem assim, mas foi assim que ela me contou. Eu dei uma gargalhada enorme. Pensei que ela estivesse a gozar. Mas depois ela garantiu que era verdade e eu disse: foda-se, que idiota. Idiota por vårios motivos. Por andar na cama com vårias sem protecção, por enganar, por mentir e, no fim, por nem sequer se dar ao trabalho de falar individualmente com cada uma.

Isto pode ter piada, eu sei. Mas porque nĂŁo foi connosco. Ela disse-me que amiga estava mal com isto tudo. Porque nĂŁo Ă© sĂł a nossa auto-estima que fica na merda. É tambĂ©m a nossa capacidade de confiar e, no final do dia, de amar.

E no fim desta história toda só retiro uma coisa: grande parte dos homens (e mulheres, claro) que andam por aí a dar desculpas para serem uma merda de pessoas e a saltar de relação em relação como se nada fosse, não são inatingíveis ou descontentes ou eternos insatisfeitos. São, na verdade, pessoas sozinhas sem capacidade de se abrir aos outros.

Já cantava o Mike Posner “And I can’t keep a girl, no / Cause as soon as the sun comes up / I cut them all loose and work’s my excuse / But the truth is I can’t open up”.

É por isso que nĂŁo consigo ter empatia e fico mesmo intolerante a homens cheios de parlapiĂȘ. É tudo demasiado pomposo, demasiado fabricado e demasiado falso.

HĂĄ uns tempos fui fazer um trabalho e, entre as pessoas, estava um tipo com quem nunca tinha trabalhado ou estado. E jĂĄ aconteceu estar em trabalhos com pessoas que mal falam, sĂŁo demasiado formais, Ă© tudo demasiado chato e as horas demoram a passar porque as pessoas nĂŁo saem do seu modus operandi profissional e querem manter uma certa distĂąncia. A verdade Ă© que ele era efectivamente divertido e soube rapidamente cortar o gelo com toda a gente.

Mas a coisa descambou. Ele passou rapidamente de um profissional de fácil trato a um tipo que está a chamar “malandra” e “gostosa” às mulheres com quem está a trabalhar há duas horas e que não conhece de lado nenhum.

E o que Ă© que isto significa? Nada. Provavelmente ele atĂ© estava a ter piada. Eu Ă© que nĂŁo gosto (nem nunca gostei) de homens espalha-brasas e fico mesmo com comichĂŁo. Porque isto requer prĂĄtica. NĂŁo Ă© sĂł uma questĂŁo de personalidade. E um tipo que chega a um trabalho, nĂŁo conhece ninguĂ©m e jĂĄ estĂĄ a fazer comentĂĄrios engraçados e sexuais e a cantar “vai malanda”, deixa de ter piada e chega a roçar o inconveniente. E sempre que ele garantia que tinha namorada, como se isso fosse um qualquer trofĂ©u, eu jĂĄ sĂł revirava os olhos e dizia para mim: sĂȘ simpĂĄtica Lena, sĂȘ simpĂĄtica.

A verdade Ă© que tambĂ©m sou uma pessoa que nĂŁo dĂĄ muita confiança aos outros. NĂŁo tenho a postura do flirt porque nĂŁo tenho paciĂȘncia (nem necessidade) para isso. E gosto de homens que se dĂŁo a conhecer, que partilham experiĂȘncias, que criam empatia com os outros, que querem acrescentar qualquer coisa mais e nĂŁo de homens que sĂł sabem ter este tipo de conversa de discoteca ao sĂĄbado Ă  noite totalmente fora do contexto.

Nesse mesmo trabalho estava outro tipo que era o oposto: um tipo calado, profissional, discreto, que estava a fazer o que tinha para fazer e, nos tempos livres, conversava sobre coisas do dia-a-dia, partilhou algumas experiĂȘncias de outros trabalhos, deu-me dicas relativamente a este meio e como criar um negĂłcio, vendendo por minha conta.

Não falou da vida pessoal, não faço ideia se é casado, sem tem namorada ou filhas ou se é gay. Não fez comentårios, não se armou em chico-esperto e foi simplesmente um tipo simpåtico e profissional com quem se cria boa empatia e se espera voltar a trabalhar.

EntĂŁo o que Ă© que tenho para dizer com isto? Nada. SĂł queria mesmo contar estas duas histĂłrias que tĂȘm um gancho em comum: fujam dos tipos demasiado pintarolas e cheios de lĂ©rias. Servem para rir e para depois contar uma histĂłria engraçada Ă s amigas. Mas nĂŁo servem para nos apaixonarmos por eles.

 
 
 

© 2019-2025 Helena Magalhães. Todos os Direitos Reservados.

bottom of page