No outro dia, ao jantar com umas amigas, a conversa caiu invariavelmente em sexo. Em quem o fazia, com quem o fazia e como o fazia. E, claro está, o inverso também. Naquela mesa, havia pelo menos mais duas mulheres que poderiam levantar o dedo sem vergonhas, e soltar o grande tabu que é a abstinência. E antes que revirem os olhos – porque a palavra abstinência não é assim tão comum no nosso dia-a-dia – talvez nunca tenham parado para pensar nisto mas, mais do que não se ter uma relação amorosa, o grande bicho papão é não se ter sexo.
Deixem-me explicar: eu olho à minha volta, num restaurante, e consigo apontar dezenas de mulheres bonitas e, à primeira vista, interessantes. O mesmo não posso dizer dos homens. Porque será que conheço tantas mulheres de 30 anos fantásticas, bonitas, inteligentes e solteiras e não conheço nenhum homem assim? Calma, não estou a generalizar – já recebi dezenas de emails de homens que, só de os ler, me pareceram bastante interessantes – mas onde é que eles estão escondidos? É que não são os que nós conhecemos.
A última vez que me apaixonei, atirei-me de cabeça contra a parede sem medo que aquilo que recebesse em troca não fosse recíproco. Não foi – ele acabou por me partir o coração. Não de uma forma intensa tipo Charlotte Brontë, mas naquela forma profunda e lenta em que uma pessoa vê muitos filmes sozinha em casa e passa horas a ouvir Joni Mitchell e Jessie Ware porque simplesmente não lhe apetece estar com ninguém.
Há muito sexo em Lisboa. Mas é aquele tipo de sexo que leva a trocas de mensagens ao sábado à noite, amizades (pouco) coloridas, perspectivas de subidas na carreira e não a romances. Quando eu decidi que simplesmente não ia para a cama com mais ninguém que não fosse realmente interessante, foi mais numa de brincadeira com as minhas amigas. Mas a verdade é que o sexo confunde-nos as ideias e faz-nos acreditar em sentimentos que não existem. Nos últimos tempos, conheci dezenas de tipos, uns mais parvos do que outros. Mas, sem o sexo como meta, o que é que eles tinham para me dar? Nada.
É aqui que quero chegar – quando não há nada para nos confundir as ideias, é fácil separar o trigo do joio. Porque há muito sexo à nossa espera – se o quisermos.
Mas não há romance.
Um tipo mete conversa connosco numa discoteca e se percebe que, nessa noite, não a vai terminar a despir-nos as calças, adeusinho e passa para outra. E eu não sei quem é a outra. Mas não sou eu. Nem as minhas amigas interessantes, inteligentes e solteiras com quem jantei no sábado à noite. Ah, e bonitas também.
E é exactamente por isso que, muitas vezes, me sinto mesmo lixada por ter nascido nesta geração e não há quarenta anos atrás. Porque o mundo está muito mais fodido. Nós, seres humanos, estamos a tornar-nos cada vez mais emocionalmente corruptos. E como não estou disposta a entrar em relações sem interesse com idiotas que me chamam “girassa” e dão mais erros no português que eu no japonês, fico como estou.
Sem sexo e sem romance.
O que acham? Concordam que o sexo nos confunde as ideias? Que tipo de homens têm conhecido?
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