Fotografia tirada por Catarina Paiva | Le Frenzberries
Na semana passada, quando partilhei a crónica sobre o idiota de Ibiza, perguntei se, sabendo de uma traição, as leitoras/es se iriam meter ao barulho.
Eu na altura não meti. E expliquei os meus motivos. Mas foi bastante interessante ler os vossos comentários, mensagens e emails com as várias razões porque uns se meteriam e outros, como eu, ficariam longe de assunto alheio. Na verdade, e numa situação deste género, não é fácil uma pessoa saber como agir porque sabemos que, quer falando, quer calando, vamos estar a participar involuntariamente na traição.
É por isso que, hoje, vos quero contar uma outra história – desta vez com um desfecho diferente.
Há uns anos – e no meio dos milhares de idiotas que já conheci – houve um particularmente bizarro que, durante uns tempos, não me largava o pé. Vamos chamar-lhe Louco da Casa dos Segredos. E ia-me contando inúmeras histórias absurdas sobre a vida dele, a ex-namorada (com quem continuava a estar e, só isso, já era motivo mais do que suficiente para me apetecer dar-lhe um pontapé na cabeça sempre que o via), falava-me de outras mulheres que conhecia (era uma táctica de engate, supostamente, só que eu nunca percebi o propósito dele) e de casos que teve e ia tendo. Ele vestia-se exactamente igual a um tipo saído da Casa dos Segredos, daí a alcunha que acabei de inventar. Por isso, podem imaginar, a vontade louca que eu tinha de falar com ele… not.
Uma noite, fui ao Tamariz com uma amiga, e ele, sabendo que eu estava lá, simplesmente foi lá ter sozinho. Que chato, right? E ficou lá ao pé de mim a fazer sala. Até me ter dito que a ex-namorada tinha visto o carro dele, tinha ido lá e estava, à porta, ao telefone a fazer um escândalo e a dizer-lhe para ele sair. Não sei se isto foi verdade ou não mas eu, farta dele, aproveitei o drama e simplesmente saí pela outra porta e fui para casa.
Na altura, tinha uma paixoneta por este tipo, andávamos a sair e provavelmente teria feito tudo para o sensibilizar. A dada altura, ele contou-me uma história de um amigo que estava com uns problemas com a namorada (relativamente recente) porque ele já a tinha apanhado a mentir. Completamente ao acaso, pedi para me mostrar uma fotografia do amigo e da namorada. E eis que a namorada deste amigo dele era a mesma ex-namorada do Louco da Casa dos Segredos e com quem ele me dizia que continuava a estar.
O mundo é mesmo muito irónico.
Num impulso, eu já estava a mandar-lhe mensagens para confirmar se ele continuava a sair com a ex-namorada (que ele confirmou), a minha paixoneta já estava a falar com o amigo, o amigo já estava a falar comigo e eu já estava metida neste molho de brócolos até ao pescoço. Dias depois, a namorada dele (e ex-namorada do Louco da Casa dos Segredos) estava a enviar-me mensagens altamente ofensivas no Facebook e o amigo dele, depois de resolver tudo com ela, virou-se igualmente contra mim.
De repente, o amigo da minha paixoneta odiava-me, sempre que eu estava presente ela ficava louca e eu, que tinha feito tudo com a melhor das intenções, era o bicho papão nesta história toda.
Já se passaram alguns anos e no outro dia, em conversa com ele (a paixoneta, claaaaro, não com o Louco da Casa dos Segredos) falámos desta história e eu disse que estava arrependida de me ter metido e que, se fosse hoje, não o fazia. Porque tinha acabado por sobrar para mim.
E ele deu-me outra versão que, até hoje, nunca tinha pensado: se não fosse eu, a relação deles nunca tinha andado para a frente e, provavelmente, ela não teria conseguido orientar-se emocionalmente (e libertar-se do ex-namorado AKA Louco da Casa dos Segredos) e que eu tinha sido determinante para eles conversarem e verem tudo o que estava em jogo se ela continuasse a mentir.
Muito provavelmente não teria o final feliz que teve porque a situação iria arrastar-se e levantar outros problemas, disse-me ele. Hoje em dia estão noivos.
Wow. Pára tudo!
Isto mudou toda a minha visão sobre o contar ou não contar uma traição. Porque – neste caso em particular – o facto de ter contado mudou toda aquela relação para melhor.
Eu – o bicho papão – afinal fui a salvadora desta história.
E isto faz-me pensar se, afinal, entre marido e mulher se deve meter a colher porque uma pessoa de fora pode dar inputs à relação que, de outra forma, os intervenientes não conseguem resolver. Quer seja para bem, ou para mal, estou prestes a afirmar que, se for novamente confrontada com algo deste género, afinal vou meter-me (já sem os motivos libidinosos que, naquela altura, me levaram a meter só porque era o amigo da minha paixoneta e eu queria impressioná-lo).
E com o idiota de Ibiza, se fosse hoje em dia, e depois de saber isto, provavelmente tinha mudado a minha postura, tinha contado tudo e, se calhar, tinham-se evitado anos de traições ou, perante o confronto, ele poderia ter mudado o seu comportamento e, hoje, ainda estariam juntos.
Quanto a estes noivos, não os vejo há anos mas, sem dúvida, que me continuam a achar o bicho-papão. E quanto ao Louco da Casa dos Segredos, neeeeem sei. Deve andar por aí a espalhar sementes por esta Lisboa fora.
O que pensam disto agora? Também mudaram a vossa opinião como eu?
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