Tenho hoje, daqui a nada, um casamento.
E vem mesmo a propósito.
No outro dia, ao almoço com umas amigas, veio uma história para cima da mesa. Uma amiga de uma delas, vamos chamá-la de Ana, andava com um tipo, vamos chamá-lo de Idiota Musculado. Ele era personal trainer no ginásio que ela frequentava. Já por aí eu torço o nariz. Não tenho nada contra personal trainers, atenção, mas muito dificilmente me iria interessar por um tipo que passa o dia a colocar as mãos nas pernas de outras mulheres.
Quando desconfiamos, na maioria das vezes temos razões para desconfiar
Ora a Ana e o Idiota Musculado já estavam juntos há alguns meses, ele já passava mais tempo em casa dela do que dele, dormiam juntos todas as noites e a coisa corria de vento em poupa. Um dia, sem mais nem menos, ele começou a dormir cada vez menos em casa dela, dizia que acordava muito cedo para dar treinos, que estava com trabalho e chegava tarde. Já sabem onde é que isto vai dar não já?
Um dia a Ana viu uma das raparigas de quem ele era personal trainer, vamos chamá-la de Sofia, e ele despachou-a mal a Sofia chegou. A Sofia era bem gira, alta, morena e com um corpo tonificado AKA alerta vermelho, sirenes a apitar dentro da cabeça de Ana. Confrontou o Idiota Musculado que negou tudo, era apeeeeeeeenas uma cliente dele. Continuou a, volta e meia, ir dormir a casa da Ana.
Até ao dia que deixou de ir e disse que não estava pronto para uma relação porque estava com muito trabalho. Caramba, ser personal trainer deve ser mesmo esgotante e preencher toda a vida de uma pessoa.
A minha amiga, que me estava a contar esta história ao almoço, na semana passada começou a fazer uns treinos experimentais e uma das raparigas do grupo dela era, sem mais nem menos, a Sofia que já todas conhecíamos porque já tínhamos inspeccionado o Facebook dela mil vezes na altura em que a Ana desconfiava dela e do Idiota Musculado.
Óbvio que a minha amiga abordou a Sofia e abriu o jogo.
Um idiota é sempre um idiota, não tentem justificar os seus comportamentos
Afinal, durante o tempo em que a Ana andava com o Idiota Musculado, ele também andava com a Sofia. E ela também não sabia da existência da Ana.
Eu questiono-me duas coisas:
Primeiro, como é que um tipo consegue fazer uma vida dupla com tanta naturalidade.
Segundo, como é que uma mulher não percebe que há algo que não está a funcionar na relação.
Porque ou um tipo tem uma agenda que o deixa circular livremente ou, caramba, estar muito cansado para dormir em minha casa não é desculpa que eu acreditasse facilmente.
E estas pequenas histórias que me vão chegando daqui e dali fazem-me questionar, muitas vezes, o casamento nos dias de hoje.
Isto não é uma história deprimente, nada disso. É apenas uma nota de que muitas vezes temos as coisas à frente dos olhos e simplesmente preferimos não acreditar nelas. Optamos por colocar filtros cor-de-rosa na nossa vida e ignorar a existência de um problema. A Ana desconfiava e dizia que sabia que ele a traía. Mas não fazia nada por isso. A relação acabou quando ele quis. Quando ele desapareceu.
Não teria sido a Ana mais feliz se, ao primeiro sinal, tivesse dado um chuto no rabo ao Idiota Musculado? O Amor é Outra Coisa procura, acima de tudo, mostrar que a felicidade é uma escolha nossa. Às vezes dizem-me que só conto histórias falhadas e aumento a descrença dos leitores nas relações. E talvez não estejam a interpretar bem esta rubrica.
O que realmente significa O Amor é Outra Coisa
O Amor é Outra Coisa procura mostrar que o amor é mesmo outra coisa. E que quando chega, não traz duvidas, traições ou idiotas vestidos de cordeiros. O Amor é Outra Coisa não são todas estas relações falhadas de que falo. E falo nelas exactamente para perceberem o que NÃO é o amor. Todas as crónicas procuram passar uma mensagem que, no final do dia, só tem um propósito: dar ferramentas para vocês, leitores, interpretarem melhor as vossas próprias relações e vida e perceberem quando estão a dar demasiado importância a relações que não são “Outra Coisa”.
Eu não tenho a sabedoria contida em mim. Vou aprendendo à medida que também vou partilhando histórias. Aprendo com os vossos comentários, aprendo com os emails que me enviam a contar as vossas vivências, aprendo com a própria reflexão que faço enquanto escrevo.
E claro que tenho duvidas no casamento. Quem não? Mas é por acreditar que O Amor é Outra Coisa que acredito no casamento que, daqui a duas horas, vou assistir. Porque são duas pessoas que, acima de tudo, querem cuidar uma da outra. E quando se cuida, não se trai.
Quando O Amor é Outra Coisa as pessoas são livres mas querem viver essa liberdade ao lado de outra. E é esse o amor no verdadeiro significado da palavra amor.
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