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Foto do escritorHelena Magalhães

O AMOR É OUTRA COISA #45 As relações tóxicas que nos invadem a vida


Tenho estado atenta a toda esta polémica do Johnny Depp – não pelo voyeurismo em si mas porque o tema da violência doméstica me é sensível (foi a área onde trabalhei antes de me ter virado para o jornalismo). E mais do que a saga ‘bateu ou não bateu’, este é um exemplo de uma relação tóxica alimentada até ao limite.

Se eu já estive em relações tóxicas? Claro que sim. Não só na faceta amorosa mas também a nível de trabalho e amizades. São tóxicas ao ponto de não nos conseguirmos ver livres delas. E, pior, de as identificarmos.


Somos como as pessoas que nos rodeiam. Não é cliché, é verdade

Costumam dizer que somos a soma das cinco pessoas com quem passamos mais tempo. E isto faz sentido se pensarmos que o ser humano é altamente moldável e adapta-se às situações – boas ou más. É por isso que deixamos arrastar relações infelizes. O meu antigo trabalho era tóxico: vivia em constante stress e angústia. E isso fazia de mim, muitas vezes, uma pessoa tóxica para quem me rodeava: andava sempre chateada, com má energia e emoções negativas. Este é apenas um exemplo do ciclo das relações tóxicas: extraem-nos a energia e contagiam-nos de imediato.


E tenho uma pergunta para vocês: o que é que fariam se vissem alguém de quem gostam numa relação tóxica? É fácil dizer que iríamos tentar chamar a outra pessoa à razão – eu também penso assim. Mas a verdade é triste: não fazemos nada.

Assisto, há anos, a uma relação assim. Vi a, vamos chamá-la de Joana, ser esmagada, manipulada, enganada, traída, humilhada e controlada. Já a vi caída no chão, ajudei a levantar para depois a ver entrar, novamente, de coração aberto naquela relação. O amor – ou o amor tóxico – faz-nos fazer coisas muito estúpidas. E o que é que fiz? Nada. Nós – as amigas – simplesmente deixámos de falar daquela relação. É como se ela não existisse. Alienámo-nos por completo da vida da Joana ou fomos alienadas por ela. Não porque nos tenhamos cansado de ver a mesma telenovela, mas porque a toxicidade é opcional.

SOS manipuladores

Somos cobardes? Talvez sejamos. Mas ninguém pode ser julgado por não querer descer ao fundo do poço. Porque as relações tóxicas que vivemos tornam-nos tóxicas para as pessoas que nos rodeiam. 

Estava no outro dia a ler o livro ‘SOS Manipuladores’ da Margarida Vieitez e achei piada à descrição que ela faz das pessoas tóxicas: são pessoas que nos picam e nos causam alergia, que nos usam, que nos complicam a vida, que nos tentam controlar e dominar, que nos enganam, que nos mentem, que nos humilham, que nos desprestigiam, que nos tentam mudar a todo o custo. Pessoas tóxicas são pessoas mal-formadas, sem carácter, maldosas. São prepotentes, autoritárias, neuróticas, só pensam nelas, são ciumentas, obsessivas, emocionalmente instáveis, violentas, amargas, acomodadas, que nos pressionam, que nos chantageiam, que nos cobram, que nos rebaixam. Pessoas tóxicas parecem gostar de nós mas não gostam.

Porque é que achei piada? Porque a Margarida Vieitez deve ter, certamente, conhecido o namorado da Joana dada a descrição exata que fez dele. Talvez o idiota tenha sido muso-inspirador. Mais do que já ter escrito sobre ele aqui várias vezes – porque é, para mim, o protótipo de homem de que devemos fugir a sete pés – nada mais fiz. Ofendi-o na cara dele, chamei-lhe nomes, gozei com o tipo em várias situações mas, na verdade, não fiz nada. Porque a Joana continua lá. E eu só posso concluir que ela é feliz assim. 

Relações tóxicas e felicidade

O conceito de felicidade é diferente de pessoa para pessoa. O que para mim significa ser feliz, para os outros pode estar longe do seu bem-estar. Mas os estudos dizem que o que diferencia as pessoas muito felizes das infelizes é a qualidade das suas relações sociais. Mais do que uma conta bancária recheada, ou a beleza, ou os likes no instagram, a nossa felicidade depende essencialmente das pessoas que nos rodeiam.

É aquilo que disse lá em cima: somos a soma das pessoas com quem passamos mais tempo. E quando passamos toda uma vida com alguém amargurado, é impossível não contagiar os outros com essa amargura. A nuvem cinzenta começa a invadir a vida dos que nos rodeiam. E o afastamento é inevitável. 

Margarida Vieitez conclui com uma ideia interessante: se têm pessoas que vos tiram dias de vida, como os cigarros, e que nada acrescentam ao vosso bem-estar, porque é que estão na vossa vida?

  1. Se não trazem nenhum valor acrescentado à vossa vida e, ao lado dessas pessoas, se sentem como caranguejos a andar para trás e não para a frente;

  2. Se passam os dias cheios de energias negativas;

  3. Se os vossos dias passam de azul para cinzento e a vossa disposição desaparece com uma qualquer frase da outra pessoa;

  4. Se a vossa vida não é mais vida porque são marionetas de alguém…


AFASTEM-SE!

Bem, isto agora foi um bocado dramático, é verdade. Mas deixei-me entusiasmar. Se conhecem alguém a viver uma relação tóxica, se estão numa, ou se pensam nisso, Margarida Vieitez tem dois livros interessantes nestes temas: SOS Manipuladores e Pessoas Que Nos fazem Felizes, da Esfera dos Livros.

A Joana? Continua naquela relação. Se é feliz? Só ela o saberá. 

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