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Foto do escritorHelena Magalhães

Porque a Carrie (e muitas de nós) não devia ter ficado com o Big

Denota-se a minha apatia para trabalhar quando, num domingo à tarde, me perco a ver a Fox Life e a fazer uma análise detalhada sobre toda a dinâmica do Sexo e a Cidade. Eu fui uma daquelas adolescentes precoces que, fora de horas, via os episódios que passavam, se não me engano, na RTP2. E, anos mais tarde, e já com os dvds de todas as temporadas, voltei a vê-los e a revê-los até saber os diálogos de trás para a frente. E a verdade é que, em qualquer ponto da nossa vida, já todas estivemos, ou vamos estar, com um Big. Aquele homem dá a volta à cabeça de qualquer mulher. Aquele homem que não nos quer mas também não nos larga. Que nos deixa ir embora mas só o suficiente para nos voltar a puxar quando lhe apetecer. Que mexe com a nossa cabeça quando se apercebe que nos pode estar a perder. Que não nos diz os planos que está a fazer para a sua vida mas espera que estejamos lá para o que ele decidir. Que nos faz ir às estrelas para, depois, nos fazer chorar um pranto. Que não nos dá indiferença mas também não nos presenteia com a sua presença. Anda ali, no limbo, no gosto e não gosto, no quero e não quero. Quem é que nunca teve um Big? Exacto… Mas estava exactamente agora aqui a ver um episódio na Fox Life (aquele em que o bebé da Miranda nasce e o Big vai, novamente, embora) quando pensei: ela nunca deveria ter ficado com ele. Esta ideologia de que todas vamos acabar com o Big cria fantasias desmedidas nas nossas cabeças. Nós nunca vamos ficar com os Bigs, a não ser que tenhamos a capacidade emocional e mental de aguentar anos (10 anos, no caso da Carrie) numa relação anda-e-não-anda com um homem que, nos entretantos, vai à vidinha dele.

1) Ele é má influência


Ele trazia ao de cima o pior lado da Carrie. Sempre que estava com ele, ela tornava-se paranóica, punha-o sempre a ele em primeiro lugar e tornava-se auto-destrutiva. Ele era o Deus da perfeição, fazia-a mentir aos amigos e aceitar estar numa relação que… não era uma relação.

2) Ele não queria casar com ela mas…


… oh! Casou com a Najinksy em meia dúzia de meses. E este só por si só já é uma bandeira vermelha. Arrastava a Carrie atrás dele há anos e dizia que não queria voltar a casar… mas vai-se embora, deixa-a e, quando aparece, está casado com outra quinze anos mais nova que ele. Clássico.

3) Traidor uma vez, traidor para sempre


Ele fez a Carrie trair o Aidan com ele… E, quando se fartou da Najinsky, traiu-a com a Carrie… La está, se trai com ela, vai trai-la com outra. Provavelmente a lição de moral que todas devíamos aprender.

4) Só quer o que não pode ter


Quando é que ele aparece? Quando a Carrie está com o Aidan e, depois, quando está com o Petrovsky. Sempre que ele a vê feliz, com outra pessoa, dá o ar da sua graça, como se nada fosse, e toca de lhe lixar a vida outra vez.

5) Fobia de compromissos


Ok, isto é a série toda, mas ele demorou 10 anos a decidir que queria ficar com ela. E, durante esse tempo, fê-la sofrer, trocou-a vezes sem conta, abandonou-a outras tantas, mentiu-lhe ainda mais, fê-la voltar e rastejar para, depois, a atirar porta fora como se nada fosse. 

6) Não a apresentou à família


Helloooo? Haverá mensagem mais explicita de como nunca levou a relação a sério? E porque a Carrie, com ele, era, lá está, paranóica, seguiu-o até à igreja para conhecer a mãe dele. E como é que ele a apresentou à mãe? Como amiga. 

7) Somos um casal mas só entre quatro paredes


C’mooon. Ele recusa-se a assinar a porcaria de um cartão no casamento de uma amiga delas. E, quando a Carrie vai ler o poema que fez sobre o amor, ele levanta-se e vai-se embora para falar ao telefone. Era sempre ele, ele, ele e ela em último lugar. E depois, fazia o seu sorriso de mártir arrependido e manipulava-lhe as ideias.

8) As amigas não gostavam dele


E, normalmente, as amigas têm sempre razão. Até a Charlotte, a mais crente no amor, acabou por odiar o Big. 

9) Ai que eu sou tão misterioso… 


Ele não era misterioso. Ele era cheio de bullshits. Nunca respondia a perguntas, não dizia o nome, a idade, o que sentia, o que queria, o que não queria… e respondia a tudo com frases feitas, numa tentativa blasé de soar misterioso.

10) Ele não tinha amigos


O único amigo que lhe conhecemos é um que aparece no primeiro encontro deles, porque a mulher o deixou. E o Aidan tinha o Steve, o Stanford tinha a Carrie, o Anthony Marantino (que, de forma dúbia e uma prova de que os produtores do segundo filme não se lembraram de nada melhor, casa com o Stanford) tinha a Charlotte. Quem é que o Big tinha? O motorista. E quando a actriz com quem ele tem um caso o deixa, no ombro de quem é que ele vai chorar as mágoas? No da Carrie. Se nem os amigos gostavam dele…

11) Ele nunca fez um esforço para a conhecer


Quando ela lhe disse que o amava, o que é que ele fez? Comprou-lhe uma mala horrorosa em forma de cisne. E foi preciso ela escrever um livro inteiro para ele perceber o que lhe tinha feito. 

12) Demorou 10 anos… 10 ANOS!


Sim. Ele deixou-a 10 anos à espera dele. Sim, foi para Paris atrás dela mas esta ideia cria uma fantasia mórbida e estúpida de que vale a pena esperar por alguém que nos coloca na prateleira só porque ainda não está preparado.

13) Deixou-a no altar


Nem sequer vale a pena explorar o nervosismo ou o que raio tenha passado pela cabeça dele, ou porque a Miranda estava descrente e encheu-o de ideias absurdas sobre o casamento. Ele deixou-a no altar. Ponto. Nem sequer teve a coragem de falar com ela. Ficou ali como um rato a pensar no que haveria de fazer, enquanto a deixava pendurada em frente a toda a gente.

14) Vou mostrar-lhe como a amo… por emails!


Ele sabia onde ela morava. Sabia o número de telefone dela. Podia ter ligado. Falado com as amigas. Ter ido a casa dela. Mandado flores. Cartas. Balões. Aviões… Mas nãaaaaaaaaaaaaaaaao. Ele optou por dizer que a amava e por implorar perdão por emails. Eram cartas de amor, ok, mas nem sequer foram escritas por ele. Deixa-me cá pedir-lhe desculpa no conforto do meu sofá…

15) As pessoas mudam?



Toda a dinâmica Carrie/Big faz-nos acreditar que as pessoas mudam. E todas as seis temporadas e dois filmes assentam na fantasia de que vale a pena esperar que um homem mude. Olhem para a Carrie, sofreu, foi tratada como se não valesse nada por um homem que a deixou vezes sem conta durante… 10 anos! Mas no fim, apercebeu-se do que estava a perder e transformou-se no homem que ela sempre sonhou e viveram felizes para sempre. E isto é uma tremenda bullshit. E vai contra ideia dos próprios argumentistas (do livro «He’s just not that into you») que diz que se um homem nos trata como merda é porque não está interessado em nós. Ponto final. Se esta história fosse na vida real, ela ia fartar-se de ser tratada como um objecto na prateleira por um estúpido que nunca lhe deu valor e ia seguir com a vida dela. Provavelmente, teria casado com o Aidan. Claro que estou a generalizar e a focar-me nas minhas próprias experiências com demasiados Mr. Bigs e poucos Aidans, mas as pessoas mudam? 

Vale a pena esperar por um homem? Alguém já esperou e ficou com o seu Big? 

Duvido.


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