Ontem de manhã quando cheguei ao escritório e liguei o computador, tinha um pedido de amizade de um tipo com quem tinha dezenas de amigos em comum. E quando abri o seu perfil para ver quem era, dei voltas à cabeça até me lembrar que é um tipo com quem há uns 12 ou 14 anos, fui ao cinema e troquei beijos inocentes de adolescente. E então, estive a fazer contas. Tenho 800 amigos no Facebook, provavelmente 80% deles conhecidos com quem já me cruzei ao longo da vida, das escolas, das universidades, amigos de amigos, ex-colegas de trabalho e por aí em diante. As redes sociais são exactamente isso: pessoas do nosso passado estão permanentemente presentes e vivem todas elas nos nossos ecrãs, juntamente com os seus amigos e amigos de amigos. É como se estivessem a dar dezenas de telenovelas ao mesmo tempo, onde dezenas de cenas estão acontecer, em dezenas de televisões, e nós somos a personagem principal em todas elas porque assistimos a tudo. Simples, não é? Na telenovela do meu ecrã, estão reunidos todos os meus ex-namorados. E refiro-me a todos os homens que já passaram pela minha vida, apesar de só quatro terem sido “namorados” no significado exacto da palavra. Os outros foram tipos com quem estive durante algum tempo sem lhes ter colocado rótulos, uns por quem me apaixonei, outros com quem tive péssimos, e a não repetir, momentos, com quem passei (boas) férias ou que me proporcionaram momentos de filmes de sábado à tarde, uns por quem chorei horrores, uns com quem troquei bons e maravilhosos beijos e tipos que, apesar de nunca ter sequer tocado, mexeram tanto com a minha vida que é impossível serem “só” amigos. Antigamente, estes eram tipos que, depois do adeus e fica bem, nunca mais lhes punha a vista em cima. Este do cinema, chama-se Salvador, não o vejo exactamente desde o dia do cinema. Já nem sequer me lembrava da cara dele se não o tivesse visto ontem no meu ecrã. Mas agora, somos todos os dias confrontados com excesso de informação de todos estes ex que não deviam sequer fazer parte do nosso presente. A nossa telenovela, deixa de acontecer em tempo real para arrastar quilos de bagagem em cada episódio. E temos todos estes ex a interagir em tempo real, a fazer likes nas nossas fotos, a comentar os posts que escrevemos, a seguir as nossas fotos do Instagram… Há aquele ex cujo nome ainda aparece no auto-corrector do telemóvel. Aquele que nos manda piadas pelo chat e a quem sabemos que podemos ligar se um dia nos sentirmos (demasiado) sozinhas. Ou aquele que gostamos de “perseguir” só para ver se continua idiota. Os adeus já não existem. E o adeus que dei ao Salvador há uma década atrás quando nos despedimos timidamente do cinema deixou de existir. Em cinco minutos, e sem o ver há uma década, fiquei a saber mais da sua vida do que durante a tarde que passámos juntos. Joga rugby, tem um cão igual ao Marley, estudou agronomia e tem um barco à vela. Continua um beto, tal como era quando trocámos beijos no cinema com 17 anos. Será que, ao olhar para o meu perfil, também ele achou que eu continuava a mesma, o que quer que ele tenha pensado aos 17 anos que eu era?
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